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Efeito Cruzeiro do Sul: Calotes devem pesar sobre novas captações

O calote do banco Cruzeiro do Sul se soma a outros casos recentes na lista de dores de cabeça criadas por empresas brasileiras a investidores estrangeiros que compram bônus. Além dos default da distribuidora de energia Celpa e do frigorífico Independência, a recente emissão de bônus da OGX pouco antes de uma série de problemas do grupo de Eike Batista e o rebaixamento do Grupo Farias – para “CCC”, com ameaças de calote – aumentaram a desconfiança em relação às companhias com risco de crédito mais elevado, conhecidas como “high yield”.

Não por acaso, mesmo com a reabertura da janela de oportunidades para captação no exterior, nenhuma dessas empresas se arriscou a lançar papéis no mercado internacional, sob risco de enfrentar a rejeição dos aplicadores americanos, europeus e asiáticos.

A janela para novas emissões de dívida externa foi reaberta no começo de setembro, quando acabaram as férias no Hemisfério Norte. Este mercado teve um impulso após a decisão do Federal Reserve (o Fed, banco central americano) de injetar cerca de US$ 40 bilhões na economia por mês por meio do programa de conhecido como “Quantitative Easing 3” (QE3).

Há, portanto, mais dinheiro disponível e sedento por rendimentos que não são vistos no mundo desenvolvido. Mas, na avaliação de executivos do mercado de bônus, empresas de maior risco devem ter dificuldades para captar nas próximas semanas e meses. Segundo um executivo, o país tem poucas empresas com rating intermediário, tipo “BB”: ou as empresas são super conhecidas e de primeira linha ou são de risco mais elevado.

Além disso, os últimos balanços de companhias brasileiras não foram animadores e os investidores preferem esperar os dados do terceiro trimestre de 2012 para avaliar se haverá espaço para novas captações.

Para Carlos Legaspy, presidente da gestora americana Precise Securities, que administra cerca de US$ 350 milhões em ativos, as novas emissões corporativas continuam a ser interessantes, mas é preciso haver uma análise cada vez mais detalhada de cada caso. “Continuamos interessados, mas é preciso haver cada vez mais atenção”, disse ele.

“Com o QE3, não há dúvidas de que os investidores estão em busca de rendimentos, e este tem sido um ano forte para novas emissões de high yield em geral”, diz Diane Vazza, chefe de pesquisa para renda fixa global da agência Standard & Poor’s (S&P). “Os defaults recentes [no Brasil] não devem frear por completo novas emissões, mas é provável que as empresas (high yield) tenham de pagar mais para captar.”

Para Ricardo Carvalho, diretor sênior de avaliação de empresas da agência Fitch, a percepção do apetite do mercado só estará clara a partir do momento em que uma empresa com esse perfil fizer uma captação, o que pode servir de parâmetro para as seguintes.

Desde a retomada desse mercado no começo do mês, apenas nomes conhecidos, como Vale, Banco do Brasil, Petrobras e a República emitiram dívida. Ele considera que há uma carência por papéis que não são grau de investimento, mas que também não têm perfil de dívida tão arriscado. “Certamente seriam bem vistos”, completa.

De acordo com a S&P, aconteceram 57 defaults globalmente no ano até o dia 20 de setembro, já ao se considerar o Cruzeiro do Sul – do total, 30 foram nos Estados Unidos, 17 em mercados emergentes, sete na Europa e três na região da Austrália, Canadá, Japão e Nova Zelândia. Em 2011, até a mesma época, os calotes somavam 29.

A Celpa, controlada pelo Grupo Rede, entrou em março deste ano em recuperação judicial, o que afetou cerca de US$ 250 milhões em títulos nas mãos de investidores estrangeiros. No fim de agosto, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota dos bônus perpétuos do Grupo Rede para “Ca”, considerada “altamente especulativa” e que passou a valer para cerca de US$ 497 milhões em dívida emitida pelo grupo, que administra outras centrais elétricas pelo país.

O frigorífico Independência, que recorreu à proteção judicial em 2009 para evitar a falência, chegou a emitir em março de 2010 US$ 165 milhões em notas garantidas sênior com vencimento em 2015 e retorno de 15% ao ano, rendimento alto mesmo para companhias “high yield”. Seis meses depois, a empresa veio a mercado dizer que não iria realizar o pagamento previsto dos juros.

Este ano também reuniu casos preocupantes. Em janeiro o Grupo Farias, do setor sucroalcooleiro, chegou a cogitar uma emissão de US$ 300 milhões em títulos de sete anos, que foram avaliados na época como “altamente especulativos” pela Moody’s. No fim, a empresa optou por não fazer a emissão.

Em março a OGX, que faz parte do grupo controlado por Eike Batista e tida como “high yield” pelas agências, emitiu US$ 1,063 bilhão em eurobônus de dez anos e com rendimento de 8,375% ao ano. Cerca de seis meses depois, os mesmo papéis eram negociados a 89% de seu valor de face e tinham retorno ao investidor de 10,21% ao ano.

“O caso do grupo Rede não trouxe surpresa para o mercado”, diz Carvalho, da Fitch. “O que percebemos agora é que há diversas companhias com perfil de dívida ‘high yield’ com intenção de captar. Se o mercado estará disposto a dar crédito, não temos como dizer”, acrescenta ele, que cita os setores de frigoríficos e sucroalcooleiro como dois daqueles que mais têm casos de empresas de perfil de dívida arriscado.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.