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Crise financeira de 2008: Banqueiro cumpre pena por má gestão

Em agosto, quando Jerry Williams deu entrada em uma prisão federal nos Estados Unidos, o governo americano registrou uma pequena vitória na campanha para colocar autores de crimes ligados à crise financeira atrás das grades.

Williams, 52 anos, comandou o Orion Bank e a instituição que o antecedeu por mais de 20 anos. Do edifício de oito andares que abrigava a sede do banco em Naples, na Flórida, o executivo tocava as operações da instituição, que crescia a passos largos. Durante o boom imobiliário, os ativos do Orion mais do que dobraram e seus executivos circulavam pelo Estado no jatinho da empresa, um Piaggio.

Em 2009, o Orion foi alvo de intervenção pelas autoridades. Williams foi indiciado em 2011 pela suposta autoria de 13 crimes, entre eles a adulteração das contas do banco para melhorar sua imagem. Em fevereiro, declarou-se culpado de três crimes e foi condenado a seis anos de prisão.

“Ele cresceu demais, deu um passo maior do que a perna”, disse Vincent Borelli, um cliente do Orion que trabalha na construção civil. Borelli ergueu uma mansão de 850 metros quadrados para Williams. Tomado por um credor, o imóvel hoje está à venda por US$ 3,5 milhões.

Nos EUA, 463 bancos quebraram de 2008 para cá. São, em geral, vítimas da crise econômica, da inadimplência, da má gestão ou de uma combinação das três coisas. Já o número de executivos atrás das grades por crimes cometidos nessas instituições é bem menor: algo como 17 pessoas, segundo dados da Federal Deposit Insurance Corp., empresa que administra o fundo de garantia de depósitos nos EUA. Nenhum executivo desses é um nome conhecido.

A maioria dos executivos de bancos que foram parar na prisão veio de pequenas instituições que cresceram, cresceram e a certa altura desmoronaram. Assim como Williams, foram pegos ocultando créditos podres e mentindo para autoridades.

Certos políticos e outras pessoas no país dizem que o número de condenados é baixo demais. Para eles, o Ministério Público dos EUA não foi duro o bastante com executivos que dirigiam instituições que quebraram. Segundo as autoridades, é difícil provar que um executivo cometeu um crime quando seus atos refletem, em grande medida, falta de critério e excesso de otimismo – ou seja, má gestão bancária.

“Os bancos [locais] e seus diretores e conselheiros foram presas fáceis”, disse Thomas Buchanan, sócio-gerente do escritório de advocacia Winston & Strawn LLP, que defendeu Williams. Os atos de seu cliente não teriam sido piores do que a típica violação de regulamentos, “salvo pela pressão sobre as autoridades para cortar cabeças na comunidade bancária”.

As raízes do Orion estão em outro banco, o First National Bank of Florida Keys, que Williams comprou em 1987 com outros investidores. Em 2002, ele fundiu o banco com outro para formar o Orion.

O novo banco cresceu a um ritmo estonteante, superando as próprias projeções. A carteira de empréstimos passou de US$ 760,7 milhões em 2003 para US$ 2 bilhões no fim de 2007.

Ex-funcionários contam que quanto mais o Orion crescia, mais exigente Williams ficava, e que a sede do banco era conhecida como “Torre do Terror”. Alguns disseram ter sido humilhados por Williams, levado cascudos do chefe na cabeça e ter sido chamados por termos pejorativos. Williams também zombava dos empregados que estavam acima do peso, disseram ex-funcionários.

“Eu fui beneficiado pelo sucesso do banco”, admitiu Patrick Miller, que começou a trabalhar com Williams em 1993. Ele estima que o fracasso do banco tenha custado a ele US$ 3,4 milhões. Por meios dos advogados, Williams negou ter humilhado funcionários.

“O Jerry tem uma personalidade forte e era muito exigente com o pessoal e com ele mesmo”, disseram os advogados em um comunicado. “Se algum funcionário se sentia humilhado, houve muitas outras oportunidades de emprego no setor bancário durante todo esse tempo.”

O Orion chamou a atenção das autoridades bancárias em 2007, quando o mercado imobiliário da Flórida já começava a fazer água.

Autoridades questionaram as reservas de capital do banco, classificaram de ineficaz seu programa de avaliação de crédito e concluíram que as decisões do conselho “eram dominadas pelo presidente executivo, que parecia ver o conselho, acima de tudo, como um empecilho”, disse um relatório da Inspetoria Geral do Federal Reserve, o banco central americano, após a quebra do Orion.

Os reguladores americanos concluíram que o banco não estava reconhecendo créditos problemáticos e que precisava aumentar o colchão financeiro contra eventuais perdas na carteira de crédito. Em 2008, autoridades federais e estaduais interpuseram uma ação coerciva formal contra o Orion. O banco também foi instruído a parar de pagar dividendos.

Quando as autoridades disseram que o Orion precisava de mais capital para sobreviver, Williams “adulterou livros e registros […], apresentou falsas declarações [financeiras] ao Federal Reserve, classificou falsamente empréstimos vencidos como em dia, determinou a criação de documentos fraudulentos para alterar registros de empréstimos e mentiu reiteradamente a autoridades estaduais e federais”, acusou a promotoria.

Reguladores federais e estaduais voltaram à carga no início de 2009, dizendo que o banco não tinha resolvido os problemas. A diretoria do Orion prometeu levantar mais US$ 75 milhões.

No meio do ano, Williams avisou que o Orion tinha conseguido US$ 25 milhões. Na época, as autoridades bancárias não sabiam que, tirando US$ 3 milhões, o banco financiara toda a injeção de capital, segundo os autos.

Em 9 de novembro de 2009, o Federal Reserve destituiu Williams da presidência executiva, da superintendência e da presidência do conselho do banco. Reguladores fecharam o banco quatro dias depois, vendendo todos os depósitos e o grosso dos ativos ao Iberiabank Corp., do Estado da Louisiana. A quebra custou US$ 650 milhões ao fundo de garantia de depósitos.

Williams culpa o excesso de zelo das autoridades pelo colapso do Orion – colapso que, segundo ele, era “quase garantido” quando o banco entrou na mira dos reguladores. O executivo tinha 24% da instituição. No momento da quebra, era o maior acionista.

“Não precisávamos de um resgate. O que precisávamos era que eles não tornassem as coisas ainda mais difíceis em um momento que já era complicado”, disse o banqueiro em uma entrevista por telefone antes de se apresentar à prisão, em 10 de agosto. “Seu maior erro, se é que houve, foi ter brigado tanto para manter o banco de pé”, acrescentou o advogado.

Williams cumpre a pena em uma prisão de segurança mínima em Montgomery, no Estado do Alabama. Pediu para ser mandado para lá, dizendo que seria o lugar mais perto da família, que deixou o município de Naples depois do colapso do banco.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.