Crise derruba receita dos bancos de investimento
O ano de 2011 começou com ótimas perspectivas para os bancos de investimento, mas os ventos mudaram de rumo no segundo semestre, com o agravamento da crise na Europa. Sem as ofertas domésticas de ações e de bônus no exterior, as instituições dependem agora de operações de fusões e aquisições e de emissões de debêntures para recuperar a queda das receitas, que já chega a 23% no ano até outubro, com US$ 753,5 milhões, segundo dados da Dealogic.
Sem a venda de ações e também de títulos de dívida no exterior por parte das empresas, os bancos estão dependendo da maré das operações de fusões e aquisições e das debêntures – dois segmentos que mantiveram o vigor nos últimos meses – para recuperar a queda de faturamento.
Neste ano, as ofertas de renda fixa doméstica somam R$ 72,4 bilhões até outubro, com alta de 10% em relação a 2010, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). As transações de fusão e aquisição têm gerado um fluxo constante de serviço para os bancos, com 555 operações, número 13% maior do que em 2010, de acordo com a Dealogic. O tamanho das operações, entretanto, foi menor, de onde se pode concluir que as comissões também caíram.
O pior cenário está com a renda variável. As operações de ações estão em R$ 18,9 bilhões, enquanto em 2010 foram R$ 148,7 bilhões. Mesmo deixados de lado os R$ 120 bilhões da oferta de ações da Petrobras feita no ano passado, 2011 deve registrar um encolhimento, já que o ano acabou para a renda variável, segundo os banqueiros.
Como a escassez de serviços é geral, as comissões já estão no chão diante da maior concorrência. Um executivo conta que as taxas para operações de debêntures já caíram pela metade ao longo deste ano. As emissões no exterior também estão com ganhos muito baixos, segundo outro executivo.
Uma das justificativas para a forte queda das comissões em renda fixa é que o mercado está restrito a empresas de primeira linha, que pagam percentuais menores às instituições pelas operações. A redução no número de transações também explica a menor receita nos últimos meses.
Mas o ano não fugiu à regra dos três anteriores, diz Jean-Marc Etlin, vice-presidente de banco de investimento do Itaú BBA. “A dinâmica de mercado que vivemos em 2011 não é diferente do foram os últimos três anos. Desde a crise de 2008, temos, em média, seis meses bons e seis meses mais difíceis.”
O mercado de renda variável só deve reabrir em 2012, se as condições permitirem. Mesmo no primeiro semestre, quando algumas empresas conseguiram fazer colocações, o resultado não foi dos melhores. Algumas ofertas ficaram abaixo do limite inferior de preços fixado antes da transação e muitas companhias não conseguiram nem concluir a emissão.
Com relação às captações externas, os bancos aconselharam seus clientes a aproveitar os primeiros meses, antes que os problemas com as dívidas soberanas na Europa se agravassem. Não por acaso, o volume de emissões internacionais nos primeiros seis meses de 2011 atingiu US$ 30 bilhões, volume igual ao de todo o ano de 2010.
Com o fechamento do mercado internacional em agosto, a saída tem sido o acesso ao mercado de dívida interna, que se mantém aquecido, garantindo ainda ganho para os bancos coordenadores. Outra fonte de receita para as instituições financeiras são as fusões e aquisições.
Segundo Etlin, do Itaú BBA, as fusões foram puxadas pela disposição dos estrangeiros em entrar no Brasil – como mostra o volume recorde de investimento estrangeiro direto – e também pelas consolidações internas. “O capital continua sendo essencial para empresas em países em crescimento como o Brasil. Por isso, se as opções se fecharam na parte de ações e de dívida, as companhias buscaram alternativas em fusões e aquisições”, diz Daniel Wainstein, do Goldman Sachs.
Executivos de sete diferentes bancos de investimento entrevistados pelo Valorafirmam que as comissões das operações de fusões e aquisições foram as que menos sofreram ao longo deste ano. Renato Ejnisman, no comando do Bradesco BBI desde fevereiro deste ano, diz que, em alguns casos, as comissões para as fusões e aquisições estão até maiores do que em 2010, devido à maior complexidade dos negócios realizados.
Levindo Santos, diretor do HSBC, explica que os fundos que compram participações em empresas também colaboram para este movimento. Com cerca de US$ 10 bilhões para investir no Brasil, os fundos de “private equity” se mantém ativos e buscam opções de aquisição entre as empresas de médio porte – o que explica em parte a queda do valor total das operações fechadas.
As perspectivas para o próximo ano são nebulosas. A volta dos mercados ainda está condicionada a uma solução para os problemas na Europa. “Um bom sinal foi a oferta de ações da Groupon, que foi fechada acima do preço estabelecido”, diz Patricia Moraes, chefe do banco de investimento do J.P. Morgan, ao comentar a venda de papéis da empresa de cupons de desconto na internet, que superou em 30% o valor inicial pretendido.
“As taxas de juros estão baixíssimas e a liquidez é muito alta. Isso é favorável para o mercado de capitais no Brasil”, diz José Olympio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Credit Suisse.
Fonte: Fernando Travaglini e Carolina Mandl, Valor Economico