Caso Petrobras: Fornecedor enfrenta pedido de falência e até larga obra
Empresas com fluxo de caixa altamente dependente da Petrobras já falam abertamente sobre as dificuldades financeiras sofridas após a estatal adotar maior rigor em pagamentos e em liberação de aditivos. Em alguns casos, a situação ficou ainda mais grave depois de serem tornadas públicas as investigações da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal – e há relatos de abandono de obras, além de pedidos de falência e recuperação judicial ao longo da cadeia de fornecedores.
O Consórcio Fidens Milpan abandonou recentemente obras de uma unidade de coque (derivado de petróleo) na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, deixando para trás máquinas montadas dentro da área da Petrobras. Conforme apurou o Valor, o consórcio e a estatal tentaram negociar neste ano aditivos para o contrato, mas a estatal foi dura nas conversas e não houve um consenso sobre os preços.
Diante disso, os trabalhos foram interrompidos e até agora não foram restabelecidos. O contrato em questão valia R$ 341,6 milhões e os trabalhos incluíam fornecimento de materiais, equipamentos, construção civil, montagem eletromecânica, testes, preservação e assistência técnica para implantação da unidade de coque. Procurada, a assessoria de imprensa da Fidens – cuja carteira de obras é 70% baseada na estatal – não quis fornecer informações. A empresa, que também atuava no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), não tem hoje nenhuma obra com a estatal em andamento.
Na caldeiraria pernambucana Máquinas Piratininga, há atrasos de pagamentos de dois consórcios que trabalham na Refinaria Abreu e Lima: EBE- Alusa e Fidens. Segundo Pedro Rejaque, diretor e acionista da empresa, 60 funcionários já foram dispensados e 250 estão de braços cruzados. Segundo ele, os consórcios justificaram o não pagamento pelo fato de a Petrobras não ter pago os aditivos dos seus contratos, prejudicando seu fluxo de caixa. “O consórcio diz que a Petrobras atrasou o pagamento dos aditivos. Eu falei também com a Petrobras, que diz que, no atual momento político, está difícil aprovar os aditivos com os consórcios”, afirma Rejaque.
O consórcio EBE-Alusa estava responsável pela unidade de snox (processo de tratamento de gases) da refinaria e tem um contrato de R$ 50 milhões com a Piratininga. Os pagamentos do consórcio a sua fornecedora estavam ocorrendo regularmente até que, há dois meses, pararam de ocorrer, conta Rejaque. “De serviço já entregue, o consórcio já nos deve R$ 2 milhões. E há ainda mais R$ 7 milhões as serem executados conforme o contrato”, disse.
Com o consórcio Fidens Milplan, os problemas começaram há mais de seis meses. Do contrato de R$ 6,5 milhões, a Piratininga já executou R$ 5,5 milhões, mas só recebeu R$ 2,5 milhões. Rejaque diz que ainda não entrou na Justiça pois a Petrobras sinalizou que poderá haver um acordo no caso da Fidens, em dezembro. Os problemas com a EBE-Alusa, no entanto, ainda não têm previsão de serem solucionados, diz.
Sem pagamento dos consórcios, os sócios da Piratininga estudam fazer um aporte de capital para fazer a fábrica voltar a funcionar. “O problema da Petrobras com os aditivos dos consórcios afeta hoje toda a cadeia de subcontratados”, afirma.
A Egesa é outra empresa com dificuldades citadas nos bastidores. A companhia virou alvo de um pedido de falência da Fr9 Participações e Administração de Bens (conforme processo público na Justiça do Rio). Além disso, teve que negociar recentemente com um sindicato o plano de pagamentos para cerca de 350 trabalhadores de suas obras no Comperj. Os pagamentos começaram a ser feitos novamente nesta semana.
Ainda no Comperj, representantes sindicais citam que o consórcio CPE e a empresa GDK também estão com dificuldades. A GDK é alvo de relatos de problemas financeiros há mais tempo, mas começou a atrasar pagamentos aos funcionários no Rio neste ano e pode ser alvo nos próximos meses de uma ação do sindicato que os representa. A empresa emprega cerca de 400 pessoas.
A Galvão Engenharia, com um quarto de suas receitas vindo da Petrobras, já chegou a ser alvo de pedidos de recuperação judicial neste ano. A empresa tem problemas de atrasos em pagamento da estatal à empresa, mas o problema vem antes do endurecimento das investigações da Lava-Jato. Procurada, a assessoria de imprensa não quis enviar um posicionamento.
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