BTG quer concluir aquisição da chilena Celfin em um mês
Em mais um passo na acelerada estratégia de expansão, o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, atravessou a fronteira para negociar a compra da Celfin Capital, principal corretora chilena, que conta com uma forte área de gestão de recursos, inclusive de fundos de pensão. Embora tenha sido comunicada como possível fusão, trata-se de uma aquisição e o banco de investimento brasileiro espera concluí-la em um mês, conforme apurou o Valor.
Os dois lados negociam há três meses aproximadamente e assinaram um acordo de exclusividade, para que nenhum dos lados possa flertar com concorrentes, mas o negócio não está fechado. Preço e condições de pagamento ainda são discutidos e o BTG poderá pagar uma parte da compra com suas ações.
Embora não seja listado em bolsa, o banco brasileiro tem planos de abrir o capital – nesta semana pediu registro de companhia aberta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – e, quando isso acontecer, os atuais sócios do Celfin terão uma porta de saída.
A ideia é que os chilenos continuem à frente da operação e por essa razão a aquisição está sendo tratada dentro de um “espírito de fusão”. Os sócios do Celfin tinham grande receio de que a notícia vazasse antes que os funcionários fossem comunicados, como de fato acabou acontecendo ontem quando a notícia foi publicada pelo jornal chileno “Diario Financiero”.
A Celfin é uma boa plataforma para o BTG se expandir regionalmente. Sozinha, a instituição brasileira já ocupa posição de liderança entre bancos de investimento da região, mas com atuação ainda concentrada em território nacional. Embora seja uma corretora, a Celfin funciona como um banco de investimentos (em moldes semelhantes aos ‘broker dealers’ americanos) e atua na corretagem em bolsa, em assessoria financeira, gestão de fundos e “wealth management”. Lidera esse mercado no Chile e também no Peru e está começando a operação na Colômbia.
Perto dos números do BTG, entretanto, a Celfin é pequena. Deve lucrar neste ano algo como US$ 40 milhões. A instituição – criada em 1988 por Juan Andrés Camus e Jorge Errázuriz – encerrou o ano passado com ativos totais de 80 bilhões de pesos chilenos, equivalente a cerca de R$ 274 milhões, de acordo com balanço disponível no site da instituição. Em 2010, a Celfin registrou lucro de R$ 50 milhões, praticamente estável na comparação com o ano anterior.
Já o BTG possuia R$ 73,7 bilhões em ativos em dezembro passado, conforme balanço no padrão contábil brasileiro (BR Gaap). O lucro consolidado da instituição atingiu R$ 810 milhões em 2010, o que representa um crescimento de 29% em relação ao ano anterior.
Na área de corretagem, a Celfin é líder em volume negociado na bolsa chilena, com participação de 17,3%. Em banco de investimento, a instituição atuou em operações no mercado de ações no total de US$ 5 bilhões nos últimos cinco anos, além de US$ 3 bilhões em operações de dívida. Em fusões e aquisições, a Celfin intermediou operações de mais de US$ 3 bilhões.
Um dos pontos fortes da corretora é a gestão de recursos para clientes institucionais. A Celfin administra um total de US$ 11,5 bilhões de fundos de pensão e seguradoras, a maior parte via distribuição de produtos de gestoras internacionais como Credit Suisse, Schroders e UBS. A companhia conta ainda com uma área de gestão de fortuna com patrimônio de US$ 5,4 bilhões, além de uma área de fundos com US$ 5,5 bilhões sob gestão.
A experiência na administração de fundos no exterior não livrou a Celfin de perdas com aplicações em carteiras de Bernard Madoff, envolvido em um esquema de pirâmide financeira estimado em US$ 50 bilhões descoberto no auge da crise financeira de 2008. A instituição acabou concordando em devolver US$ 11 milhões, equivalente ao valor total dos investimentos iniciais, a aproximadamente 100 clientes que sofreram perdas.
No Chile, o BTG terá como concorrente o Itaú, que no início do mês anunciou uma associação com um dos maiores bancos do país vizinho, o Munita, Cruzat & Claro (MCC). O acordo garantiu ao banco brasileiro a liderança em administração de fortunas.
Se concretizada, a compra da Celfin ainda estará sujeita ao acerto de termos definitivos, auditoria e aprovações regulatórias. “As instituições acreditam que compartilham as mesmas culturas e as sinergias significativas que podem ser criadas na fusão beneficiarão seus respectivos clientes, empregados e acionistas”, informou o BTG, em nota encaminhada no início da tarde de ontem. Procurada, a Celfin não comentou o assunto até o fechamento desta edição.
Fonte: Vanessa Adachi e Vinícius Pinheiro, Valor Economico