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BC incentiva crédito no momento em que dívida de brasileiro bate recorde

O governo volta a incentivar o crédito para o consumo em um momento que, teoricamente, tem ingredientes arriscados: brasileiros nunca deveram tanto e nunca comprometeram parcela tão grande do salário para pagar as dívidas. Desde a crise de 2008, quando o governo aumentou a oferta de crédito para manter a economia aquecida, a dívida total dos brasileiros saltou 80,7% e o valor das parcelas pagas mensalmente cresceu 60%. Enquanto isso, o salário aumentou bem menos: 33,3%.

Dados do Banco Central revelam que o endividamento das famílias está no nível mais alto da história: pessoas físicas devem cerca de R$ 715,19 bilhões aos bancos em operações das mais simples, como o microcrédito e o cheque especial, até financiamentos longos, como o imobiliário e de veículos, passando pelo caro cartão de crédito.

Segundo o BC, cada brasileiro deve atualmente 41,8% da soma dos salários de um ano inteiro, um recorde. Há pouco mais de três anos, quando começou a crise de 2008, brasileiros deviam o correspondente a 32,2% de sua renda de 12 meses.

Pela metodologia usada nesses cálculos, o endividamento é o total das dívidas de uma família em relação à sua renda somada em um ano.

Seria como dizer que, na média, cada um dos mais de 192 milhões de brasileiros deve atualmente R$ 3.724 às financeiras e bancos. No início da crise passada, quando o Brasil tinha 2 milhões de habitantes a menos e o governo ainda não havia incentivado o crédito, o endividamento médio era de R$ 2.093.

Receituário repetido. O diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, disse no começo do mês que a instituição não está preocupada com o aumento do endividamento das famílias porque o prazo praticado pelos bancos cresceu e os juros têm caído. Além disso, o mercado de trabalho e a renda seguem em expansão. “Percebe-se que o endividamento das famílias cresce, mas o comprometimento da renda tem se mantido”, disse na ocasião.

Nos últimos dias, o BC retirou parte das amarras impostas ao crédito no fim do ano passado. Com o objetivo de aumentar a demanda interna, foram anunciados incentivos para financiamentos voltados ao consumo – como o crédito para veículos, pessoal e consignado. Além disso, o juro básico da economia cai desde agosto com o mesmo objetivo de baratear o crédito, incentivar o consumo e, assim, reduzir os efeitos da crise internacional. O receituário é bem parecido com o usado na crise de 2008.

Mas o quadro tem, gradualmente, mudado. Apesar do esforço para incentivar a economia interna, as forças geradas pelo complicado quadro global têm aparecido cada vez mais: estoques elevados, produção industrial cada vez mais lenta e desaceleração na geração de empregos.

Brasileiro deve, em média, R$ 3.724

Nos últimos três anos, clientes aproveitaram a oferta de crédito nos bancos e aumentaram sua dívida com as instituições financeiras em R$ 320 bilhões. Nesse mesmo período, a massa salarial mensal dos trabalhadores cresceu R$ 36,9 bilhões. Os números revelam que, grosso modo, brasileiros tomaram R$ 865 em novos empréstimos para cada R$ 100 de aumento da renda. E cada um dos mais de 192 milhões de brasileiros deve hoje R$ 3.724 para as financeiras e bancos.

Apesar desse impressionante aumento do endividamento, o orçamento familiar não foi tão castigado. Dados do Banco Central mostram que a fatia do salário mensal comprometida com o pagamento de parcelas e carnês aumentou em ritmo considerado gradual pela instituição.

Em setembro de 2008, quando a crise financeira passada teve início e o governo passou a incentivar o crédito, brasileiros usavam 18,3% da renda mensal para pagar dívidas. Em agosto de 2011, o comprometimento do salário alcançou 21,9%.

A explicação para uma diferença tão grande de ritmo no aumento da dívida e do comprometimento de renda está nos prazos e na taxa cobrada nos financiamentos. Atualmente, empréstimos às pessoas físicas têm prazo médio de 584 dias. Três anos atrás, eram 118 dias a menos para quitar as operações.

Hoje em dia, mesmo que a dívida seja maior, clientes têm mais tempo para pagar e, portanto, os pagamentos são diluídos em mais parcelas.

Outro motivo está no custo da operação. Apesar de o Brasil continuar com um dos juros reais mais altos do mundo, as taxas têm caído gradativamente. Em setembro de 2008, o juro médio pago pelas famílias estava em 53% ao ano. Agora, é de 45,7%.

“Os dados mostram que o comprometimento da renda tem evolução gradual. Isso mostra que o aumento do crédito aconteceu, pelo menos até agora, de maneira prudente porque não reduziu drasticamente a capacidade financeira dos clientes”, diz o professor de finanças de Ibmec, Ricardo José de Almeida. Para ele, os dados ainda mostram situação adequada e confortável. “Mas é preciso observar a evolução da inadimplência na crise. Se os atrasos crescerem muito, a luz de alerta acende e será preciso revisar a estratégia.”

O cruzamento de dados do BC mostra que brasileiros pagaram R$ 32,45 bilhões em parcelas, carnês e outros pagamentos de dívida no último mês de agosto. Desse valor, pouco menos de dois terços – 63,9% ou R$ 20,7 bilhões – foram destinados ao abatimento da dívida propriamente dita, a chamada amortização da operação. O restante – de 36,1% ou R$ 11,7 bilhões – foi destinado para pagar os juros cobrados no financiamento.

Novas medidas. O governo deve continuar nas próximas semanas e a equipe econômica estuda mais incentivos à economia – muitas delas no sentido de aumentar a oferta de crédito. O Estado mostrou nos últimos dias que medidas têm sido debatidas em Brasília: como a retirada de impostos dos empréstimos e a liberação de parte do dinheiro dos bancos que é retido no BC, o chamado depósito compulsório. Além disso, o juro, deve continuar em queda.

Fonte: Fernando Nakagawa, de O Estado de S. Paulo

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.