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Bancos estudam como incluir pobres

Quando o governo do Afeganistão usou celulares em vez de dinheiro para pagar alguns de seus policiais, os membros da corporação pensaram que acabavam de obter um aumento salarial de 30%. Na verdade, eles simplesmente tinham recebido a quantia total, sem que qualquer parcela fosse apropriada por intermediários, pela primeira vez.

Essa história do Departamento de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos mostra como inovações tecnológicas como as operações bancárias móveis e a biometria contribuíram para integrar mais pessoas dos mercados emergentes ao sistema financeiro formal, abrindo oportunidades para os bancos dispostos a aproveitar a tentar a sorte nessa área.

Num momento em que o mercado para clientes mais endinheirados e para clientes corporativos dá sinais de saturação, oferecer aos estratos mais pobres do mundo acesso a produtos financeiros é uma oportunidade inigualável de crescimento. Metade da população adulta mundial, mais de 2,5 bilhões de pessoas, não tem uma conta bancária, segundo o Banco Mundial. Em economias de baixa renda, essa parcela pode ser inferior a um quarto. Muitos países em desenvolvimento, além disso, oferecem aos bancos o atraente acesso a uma crescente população em idade ativa e a uma classe média emergente.

“Vinte anos atrás, falávamos sobre os pobres com uma sensação de inutilidade, e acho que, agora, quando falamos da base da pirâmide, na maioria das vezes estamos falando de mercados e oportunidades”, disse Michael Schlein, principal executivo da organização sem fins lucrativos Accion, que investe em instituições especializadas em microfinanças e em empresas que avançam na inclusão financeira.

Entre 2010 e 2020, os 40% mais pobres do mundo quase duplicarão seu poder de compra para US$ 5,8 trilhões, a partir dos US$ 3 trilhões anteriores, segundo o Centro de Inclusão Financeira (CFI, nas iniciais em inglês) da Accion. A ideia de oferecer pequenos empréstimos aos mais pobres do mundo teve como pioneiro, 30 anos atrás, Mohammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, e seu Grameen Bank de Bangladesh.

As microfinanças cresceram, tornando-se um setor mundial, com uma carteira de empréstimos de US$ 78 bilhões em 2011, segundo a empresa provedora de dados MIX Market. O segmento se tornou, porém, alvo de críticas pelas altas taxas de juros cobradas e pela excessiva expansão do crédito que promoveu durante a crise financeira. Os grandes bancos, que, por seu lado, sofreram um prejuízo nada desprezível durante a crise, perceberam que precisavam ir além dos modelos baseados em agências para alcançar esses clientes de forma lucrativa, num mercado tradicionalmente dependente de dinheiro.

“A competição e a saturação nesses mercados (desenvolvidos) estão crescendo cada vez mais, por isso eles têm de voltar os olhos para a próxima leva, a próxima área de possíveis empreendimentos lucrativos”, disse Gerhard Coetzee, especialista-sênior em setor financeiro do Grupo Consultivo de Assistência aos Pobres, um centro de análise e pesquisa do Banco Mundial.

O Citigroup lançou um programa de pagamentos por celular chamado Mobile Collect para pequenas lojas da República Dominicana alguns meses atrás, enquanto a bandeira de cartões MasterCard se associou com o governo nigeriano em maio para produzir 13 milhões de carteiras nacionais de identidade que também funcionam como cartões de pagamento eletrônico.

Explorar o potencial do mercado dos “sem-banco” exige modelos alternativos. A fragmentação dificulta a obtenção de economias de escala, e os bancos têm também de superar os obstáculos impostos pela precariedade da infraestrutura de comunicações e pelo histórico de crédito, muitas vezes inexistente, de muitos clientes em potencial. “Muitos bancos pensam na oportunidade da digitalização no mundo inteiro. Há, no entanto, uma limitação, que é toda a questão da infraestrutura”, disse Aigboje Aig-Imoukhuede, principal executivo do Access Bank da Nigéria, em recente conferência.

A competição é um outro problema. Os maiores concorrentes dos bancos não são seus pares, e sim as operadoras de telefonia móvel e as grandes varejistas. Coetzee diz que eles enfrentam um difícil número de equilibrismo entre criar produtos competitivos e colaborar entre si para atender a uma fatia maior do mercado.

Os bancos, além disso, precisam que as companhias de celulares permitam que seus sistemas de pagamento operem com os sistemas das concorrentes – prática comum nos mercados bancários desenvolvidos – para adquirirem escala. A M-Pesa, o bem-sucedido sistema de pagamento móvel da Safaricom no Quênia, se beneficiou da maciça participação de mercado da operadora de telecomunicações para gerar seu serviço, e, teve, portanto, uma vantagem intrínseca.

Bob Annibale, diretor mundial de Desenvolvimento Comunitário e Microfinanças do Citi, destacou a importância de integrar diferentes sistemas de pagamento. “O cerne da questão é essa arquitetura financeira… O sistema de pagamento do banco também tem conexão com o sistema de pagamento móvel. Se isso se tornar a norma, ficará muito mais fácil para nós.” Mas conseguir a colaboração dos concorrentes não é fácil. “Esperar o setor se juntar e cooperar é como querer que alguém amarre uma corda no próprio pescoço”, disse um participante na conferência.

Afastar obstáculos como esse pode revelar enormes recompensas. O Barclays, que se associou com a NGOs Care International e a Plan UK para formar a parceria Banking on Chance, que conecta grupos de poupança das cidadezinhas ao sistema financeiro formal, estimou que poderiam ser injetados na economia mundial a cada ano US$ 145 bilhões – cerca de 25% da economia da Nigéria – se todos os 2,5 bilhões de “sem-banco” fossem integrados ao programa. Conectar-se às redes já operantes pode ser fundamental. “A Coca-Cola é consumida por todo mundo… Que dificuldade teremos em ligar pagamentos, poupanças etc. a toda a cadeia de valor pela qual a Coca é comercializada?”, disse Aig-Imoukhuede.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.