Bancos disputam Casas Bahia
“Quer pagar quanto?” O antigo slogan dos comerciais da Casas Bahia na TV agora encontra um paralelo no cobiçado filão de crédito da varejista. A disputa finalmente foi aberta entre Itaú e Bradesco para resolver quem será o parceiro financeiro da rede, agora associada ao Grupo Pão de Açúcar. Não sairá barato. Quem quer vença, vai ter de desembolsar mais do que os R$ 580 milhões pagos pelo Itaú quando quebrou a exclusividade com o Pão de Açúcar, ao celebrar a fusão com o Unibanco – que carregava no portfólio, acordo com o concorrente direto Walmart. O Ponto Frio, também adquirido pelo Pão de Açúcar em 2009, é 2,5 vezes menor do que a Casas Bahia, e, portanto, a operação de financiamento da rede originada da família Klein vale mais, sinaliza o vice-presidente de relações corporativas do Pão de Açúcar, Hugo Bethlem, sem adiantar valores.
O Itaú, casado com o Pão de Açúcar desde 2003 na financeira FIC, tem preferência contratual para apresentar, em caráter exclusivo, a sua proposta até o fim do mês, mas há margem para prorrogação. Mas o grupo sinaliza que também quer ouvir o Bradesco, atual banqueiro da Bahia e emissor dos cartões “private label” e com bandeira distribuídos pela lojista. Vencido o prazo com o Itaú, se não houver acordo, o Bradesco terá prioridade. Se nenhuma das ofertas for satisfatória, um terceiro banco pode entrar na jogada, diz Bethlem. Até o fim do primeiro trimestre de 2011 a questão deve ser definida, já que a estrutura de capital da Nova Casas Bahia depende disso.
Não será, porém, uma decisão da gestão Pão de Açúcar e caberá ao conselho de administração da Nova Globex – que reuniu as bandeiras Casas Bahia, Ponto Frio e Extra Eletro-, presidido por Michel Klein, bater o martelo. Bethlem conta que tem feito reuniões semanais com os integrantes do conselho para que as diversas marcas se alinhem em torno de uma mesma política de crédito. O Ponto Frio deve continuar a ter o Itaú como parceiro.
Ele diz que o grupo está satisfeito com o desenho da parceria com o Itaú, em que a remuneração dos juros cobrados dos clientes vai integralmente para a financeira, o que possibilita à varejista receber o valor das vendas à vista. Dessa forma, a rede não precisa de “funding” próprio para bancar os clientes, economiza em despesa financeira e depois participa do resultado da atividade de financiamento por equivalência patrimonial, dos 50% que detém na FIC. A financeira é rentável desde o ano passado. “Em 2003, tomamos a decisão de não tomar risco de crédito diretamente, transferindo a competência ao banco.”
O que o Pão de Açúcar quer evitar é que o vicioso ciclo de vendas a prazos cada vez mais esticados, com o artifício do “sem juros”, que tem sido bombardeado na mídia pela concorrência e mesmo pelas bandeiras do grupo, se cristalize. Não por outra razão analistas têm apontado o modelo de financiamento da Nova Casas Bahia como incógnita para as ações do Pão de Açúcar. Embora de capital fechado, os resultados da subsidiária passarão a ser consolidados numa companhia de capital aberto. “Queremos construir uma história de sucesso, uma reputação, para depois fazer uma oferta de ações desse negócio”, diz Bethlem.
Ele conta que 55% das vendas da Nova Casas Bahia e da Globex são feitas em até dez prestações, mas o prazo médio de recebimento pelas redes, por conta do giro das operações, é de cinco meses. Do jeito que está, essa estrutura vai custar, em 2011, cerca de R$ 600 milhões em despesas financeiras. Se o prazo aos clientes fosse reduzido a oito parcelas, o recebimento cairia a quatro meses e a despesa ficaria em R$ 480 milhões. “Eu passo a ser mais rentável, sobra dinheiro para aplicar em outras coisas.”
Bethlem diz que o Pão de Açúcar suporta bem uma operação de crédito “sem juros” em até oito parcelas. Acima disso, defende uma taxa de 0,99% ao mês, para até 24 parcelas, comissionamento suficiente para acomodar o custo financeiro na própria margem.
Ele dá a entender que o grupo gosta do modelo de sociedade construído na FIC, o mesmo adotado no Ponto Frio pelo antigo Unibanco. E tudo leva a crer que o grupo tentará impor esse modelo nas negociações em torno da Casas Bahia. É um desenho diferente de Bradesco e Casas Bahia, em que a varejista é remunerada por emissão e ativação de cartões. Itaú e Bradesco não se manifestaram.
Fonte: Adriana Cotias, Valor Economico