Bancos da UE ficam criativos para melhorar balanço
Mesmo com a crise bancária na Europa dando sinais de melhora, bancos em todo o continente estão empenhados numa série de manobras para evitar, ou pelo menos adiar, ter que lidar com os problemas potenciais que rondam suas finanças. Alguns bancos estão elaborando estruturas heterodoxas concebidas para melhorar os tão importantes coeficientes de capitalização, sem ter que levantar capital novo ou remover ativos indesejados do seu balanço.
Outros estão engajados em transações complexas com clientes em dificuldades para ajudar temporariamente a evitar insolvências – mas possivelmente expondo os bancos a problemas futuros. Os bancos agora têm uma flexibilidade maior para recorrer a essas táticas por causa dos cerca de 1 trilhão de euros (US$ 1,33 trilhão) em empréstimos baratos de três anos que o Banco Central Europeu concedeu recentemente a pelo menos 800 bancos.
O programa, conhecido como Operação de Refinanciamento de Longo Prazo, ou LTRO na sigla em inglês, é considerado responsável por ter prevenido uma possível catástrofe, já que os bancos estavam penando para pagar suas dívidas que estavam vencendo. Mas, ao prestar esse socorro, o programa do BCE também permitiu que o setor adiasse seu processo de limpeza, de acordo com alguns banqueiros, investidores e especialistas. “O LTRO causou uma extensão do período para cada banco se reformar, e os danos para a zona do euro podem ser sérios”, disse Alastair Ryan, um analista do setor bancário do UBS.
As táticas são mais comuns na Espanha, onde os bancos estão repletos de empréstimos do BCE, mas também estão vergando sob o peso cada vez maior de maus investimentos no mercado imobiliário. Um exemplo é a situação das companhias de touradas da Espanha. Devido à crise econômica, elas estão sofrendo para vender ingressos para os seus eventos, geralmente populares. Os organizadores estão tendo dificuldades para pagar pelo marketing e a manutenção das arenas, segundo companhias de touradas e a sua organização setorial, que também afirmou que elas estão enfrentando um risco crescente de não conseguir honrar seus empréstimos aos bancos locais.
Assim, no começo do ano, uma companhia de touradas de Sevilha, a Empresa Pagés, chegou a um acordo pouco usual com seu credor, o Banca Cívica, que está prestes a se tornar parte do Caixabanca SA. O banco concordou em emprestar dinheiro para os empobrecidos fãs das touradas poderem comprar ingressos para a temporada, os quais custam várias centenas de euros cada.
A Pagés recebe adiantado e os espectadores têm de pagar o empréstimo, com juros, dentro de um ano, em geral. Um porta-voz do Banca Cívica disse que o acordo atrai novos clientes e lhe permite ajudar a um cliente de longa data. Programas similares de empréstimos para ingressos de touradas estão se espalhando pela Espanha. Os arranjos também são bons para os bancos, que evitam insolvências potencialmente onerosas – pelo menos por mais um ano.
Mas, ao mesmo tempo, os bancos estão fazendo empréstimos sem garantias que ficam mais arriscados à medida que a taxa de desemprego na Espanha continua a subir. Isso vai de encontro aos esforços do setor para diminuir riscos. Em outros lugares, os bancos estão ficando cada vez mais criativos para encontrar maneiras de melhorar sua capitalização, sem dar baixa de ativos indesejados ou vender novas ações – dois dos métodos que a maioria dos reguladores e outros especialistas concordam são fundamentais para fortalecer o setor.
Alguns bancos estão colocando portfólios de ativos, geralmente empréstimos para imóveis comerciais, em veículos criados recentemente fora do balanço. Os bancos então contratam consultores externos, como firmas de investimento em participações, para administrar esses veículos. Em alguns casos, os bancos concordam em absorver a primeira leva de prejuízos com os ativos, mas os prejuízos ou lucros depois disso são divididos entre o banco e o administrador do veículo. Na Espanha, quase todo banco procurou por versões criativas de estruturas como essa, de acordo com pessoas envolvidas nas discussões. Mas há armadilhas potenciais.
Os reguladores do Banco da Espanha, o banco central do país, estão examinando essas operações, ponderando se elas são apropriadas ou meramente uma máscara para empréstimos arriscados, segundo pessoas a par da situação. “Eu considero essas transações como arbitragem regulatória”, disse um veterano executivo do setor de bancos de investimento na Europa que recusou ofertas para participar nesses arranjos. Alguns bancos grandes estão engendrando soluções intermediárias que possibilitem a eles alegar que estão fazendo progresso em relação a empréstimos inadimplentes, sem que de fato tenham que arcar com o prejuízo de vender esses empréstimos com desconto. Em fins do ano passado, o Banco Santander SA, o maior da Espanha, fez acordo para vender uma parte de seus negócios de financiamento nos Estados Unidos para um grupo de firmas de investimento em participações e para o presidente da unidade. A venda gerou um ganho de cerca de US$ 1 bilhão para o Santander, uma de uma série de iniciativas do banco para levantar capital.
Mas há um porém: o negócio não é necessariamente para sempre. Os compradores têm o direito de vender sua fatia de volta para o Santander a partir de quatro anos do contrato. Um porta-voz do Santander não respondeu a pedidos de comentário.
Fonte: David Enrich e Sara Schaefer Muñoz | The Wall Street Journal, Valor Economico