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Banco é exceção e geladeira vira cofre

É de dentro da geladeira que o taxista Roman Benites tira o que precisa para satisfazer seus desejos. Não que seja glutão. Na casa do paraguaio o refrigerador faz mais do que conservar alimentos. O eletrodoméstico é o cofre de Benites, o local onde guarda o dinheiro que sobra no fim do mês. “Um bandido dificilmente vai procurar dinheiro na geladeira”, argumenta. Com essa artimanha, Benites já comprou o taxi com que percorre as ruas de Assunção. Quem vai dizer o contrário?

Benites não é o único a buscar esconderijos para seus guaranis no Paraguai. No país, conta bancária é um luxo para poucos. É difícil encontrar pelas ruas de Assunção quem tenha dinheiro em banco. Só 10% da população é bancarizada, segundo dados do Banco Central. No Brasil, esse índice é de 60%, de acordo com pesquisas do regulador brasileiro.

Sem um histórico de inflação na estratosfera como o vizinho Brasil, os paraguaios seguem deixando o dinheiro debaixo do colchão ou – por que não? – no refrigerador. Dentro da geladeira, o guarani certamente não vai se multiplicar mas tampouco vai virar moeda de colecionador.

Mas não é só isso. Também colabora para o baixo nível de bancarização o fato de o emprego informal ainda ser elevado no Paraguai. Tanto que no país os bancos ainda seguem o horário do funcionalismo público: abrem às 8h30 e fecham às 13h30, num intervalo que pouco bate com a abertura e o fechamento do comércio. Só recentemente é que o governo liberou algumas agências para testarem um horário estendido, até as 17h.

O mais comum entre os cidadãos é se associar a uma das 1.047 cooperativas que o país tem. Bancos são apenas 16. Longe das regras mais rígidas do Banco Central, como a exigência de um capital mínimo, as cooperativas oferecem empréstimos e cartões de crédito. De quebra, vendem plano médico e seguro de vida.

“Além de terem uma fatia significativa do crédito, as cooperativas possuem um papel social importante no país”, diz Jorge Corvalán, presidente do Banco Central do Paraguai. As cooperativas são responsáveis por emprestar cerca de 20% dos US$ 6,2 bilhões de estoque de crédito paraguaio.

A maior cooperativa do país é a Universitaria, fundada em 1973 e com cem mil associados hoje. Isso representa um terço dos clientes do Itaú, banco com maior número de correntistas no país. Cada vez mais, porém, o governo paraguaio tem tentado fechar o cerco às cooperativas, o que tem levado algumas delas a se transformar de vez em banco.

Na tentativa de incluir mais paraguaios no sistema financeiro, o Banco Central passou a permitir neste ano que os bancos usem a estrutura de estabelecimentos comerciais para oferecer serviços financeiros, os chamados correspondentes bancários, já bastante comuns no Brasil. O uso do celular em larga escala para transações também começou a ser discutido. “Considero que o setor agrícola está bem servido pelos bancos no Paraguai. A questão agora é a bancarização dos indivíduos”, afirma Corvalán. Empresas que plantam ou criam gado não encontram problema para fechar um empréstimo, mas as pessoas físicas nem de longe possuem a mesma facilidade.

O crédito representa cerca de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) paraguaio, abaixo dos 50,1% que o Brasil tem. É a partir dos empréstimos concedidos às pessoas físicas, segundo Corvalán, que o crédito poderá deslanchar no país.

Como as cooperativas não oferecem serviços de conta corrente, paraguaios como Benites têm até dificuldade de entender como funciona o depósito em um banco. Com um programa de rádio de um minuto, o Itaú Paraguai ganhou neste ano um prêmio de sustentabilidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ao explicar de forma didática aos paraguaios o significado de coisas como taxa de juros e depósitos.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.