Aumenta interesse por investimentos que não pagam IR
A queda na rentabilidade dos investimentos de renda fixa fez crescer o apelo de produtos nos quais não há cobrança de Imposto de Renda. O benefício tributário, mesmo que mínimo, faz diferença na rentabilidade da carteira de renda fixa no longo prazo e o investidor já percebeu isso.
Para se ter uma ideia do aumento da demanda dos investidores e também da oferta no varejo por parte dos bancos, o número de clientes que têm até R$ 5 mil em Letras de Crédito Imobiliário (LCI), por exemplo, passou de 62 em 2011 para 863 neste ano.
“Sem dúvida, com a queda da Selic, as pessoas que estavam acostumadas a rendimentos altos na renda fixa ficaram mais preocupadas. Aumentou a procura pelo serviço de consultoria, na busca por melhor rendimento e até para entender como o lado fiscal pode ajudar nisso”, disse o estrategista de gestão patrimonial da Rio Bravo Investimentos, Beto Domenici.
As LCIs e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) são títulos que representam a dívida do banco com o investidor. São produtos muito parecidos com os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), o que também tem contribuído para o interesse maior dos investidores, já que são aplicações mais conhecidas. A diferença é que, nas LCIs e LCAs, o banco utiliza o dinheiro captado para créditos direcionados, no setor imobiliário e rural, respectivamente.
“Até para proteger o poder de compra, os investidores terão de incluir na cesta de renda fixa essas produtos com isenção”, afirmou Domenici.
Mas a principal vantagem das LCIs e LCAs sobre os CDBs é a isenção de impostos. O diretor de negócios imobiliários do Santander, José Roberto Machado, disse que o banco paga entre 85% e 92% do CDI nesse tipo de aplicação. “Para uma taxa de 90% do CDI, seria preciso conseguir mais que 100% no CDB para os investimentos serem equivalentes, considerando um IR de 20%”, calcula.
O diretor de private bank do Banco do Brasil, Rogério Lot, faz um cálculo cuja diferença é ainda maior. Para o IR de 22,5% no CDB, seria preciso conseguir uma taxa de 104% do CDI para ser equivalente ao rendimento de 80% do CDI em uma LCA. “A isenção constitui um grande atrativo. Felizmente para a movimentação do mercado financeiro e de crédito do País, as pessoas vão ter de diversificar a carteira e incluir produtos alternativos”, comentou Lot.
Oferta maior
A movimentação do mercado de títulos de renda fixa se explica não somente pela demanda maior do investidor, mas também pela maior oferta por parte dos bancos. O Santander oferecia LCIs somente no private bank até o ano passado. O BB, que há tempos atua com LCAs, recentemente ampliou a carteira de crédito imobiliário e começará a oferecer LCIs até o fim do ano. A Caixa Econômica Federal, que atua em LCIs, em outubro lançará LCAs.
“Apesar de o juro estar caindo, a rentabilidade vai continuar interessante comparativamente a outros produtos de renda fixa. Acreditamos que o crédito imobiliário vai continuar crescendo e os dois produtos têm capacidade de expansão muito grande”, afirma o vice-presidente de finanças da Caixa, Márcio Percival.
Risco
Especialistas dizem que o risco de ambos os títulos de renda fixa recai sobre a instituição financeira que está emitindo as letras. Ou seja, no vencimento, o investidor precisa confiar que o banco terá caixa para devolver o dinheiro que havia captado.
A liquidez também interfere no risco e no retorno. Algumas instituições oferecem LCIs com liquidez diária, mas pagam um porcentual menor do CDI. Em geral, as instituições trabalham com faixas de resgate de 60 dias a dois anos.
Apesar de não serem investimentos em renda fixa, os fundos imobiliários também têm atraído investidores que buscam aplicações com isenção fiscal. Foram lançados 20 fundos em 12 meses e o volume, que era de R$ 89,28 milhões em agosto de 2011, passou para R$ 193,65 milhões em agosto desse ano.
O Índice de Fundos Imobiliários, lançado em setembro, hoje conta com 44 fundos. Entre 30 de dezembro de 2010 e 31 de agosto, acumulava alta de 50,6%. As cotas podem ser compradas por meio de uma corretora.
“O fundo imobiliário clássico compra imóveis para alugar, mas há diversos tipos. A partir de agora, virão para o mercado coisas boas, médias e ruins. O produto é interessante. O importante será fazer a seleção de tudo isso”, disse Domenici.
Fonte: Yolanda Fordelonde, do Economia & Negócios, O Estado de S.Paulo