Após fraude do UBS, a pergunta: eles não aprenderam com a crise?
Nos próximos meses, a fraude de US$ 2,3 bilhões do banco suiço UBS será um assunto desconfortavelmente obrigatório nas reuniões de comitês de auditoria e conselhos de bancos de investimentos em todo o mundo, diz John Feely, sócio e líder global de auditoria interna da PriceWaterhouseCoopers (PWC). “Não tenho dúvidas de que será sempre o primeiro tema da mesa,” afirma.
Com a conversa iniciada, após alguns comentários sobre a fraude e o autor, Kweku Adoboli, rapaz de 31 anos, nascido em Gana e formado na Inglaterra, virão as perguntas: “Como aconteceu? Como eles poderiam ter evitado? O mesmo aconteceria aqui?”. Mas isso é o que acontecerá dentro das empresas sujeitas a fraudes como a do banco suíço. Fora dali, a principal questão é outra, diz Salvatore Cantale, professor de finanças do instituto de estudos de negócios suiço IMD Business School: “Mas eles não aprenderam nada com a crise de 2008?”
Na opinião dele, muitas lições foram aprendidas, e os bancos evoluíram na supervisão de suas operações, mas é preciso mudar o modelo de trabalho e incentivos dos bancos de investimento. “Três anos se passaram desde a quebra do Lehman e o início da crise financeira. Os bancos aprenderam lições importantes, mas a real causa da crise – o desalinhamento entre incentivos e criação de valor – continua aí.”
Por “criação de valor”, acrescenta Cantale, “não estou me referindo necessariamente aos lucros e alta de preços de ações.” Na opinião dele, enquanto os salários e bônus dos funcionários do mercado financeiro não estiverem ligados à criação de valor – mas sim ao dinheiro que eles trazem à empresa – episódios como o do UBS acontecerão diversas outras vezes.
Cantale defende a mudança da motivação dos operadores do mercado financeiro. “Imaginem quantos profissionais desonestos estão por aí e não ficaram famosos pelas fraudes uma vez que conseguiram fazer muito dinheiro com suas transações, ao invés de prejuízo? Enquanto os bancos e instituições financeiras não acabarem com o incentivo aos operadores para que tomem muito risco na busca por ganhos, o problema vai continuar”, afirma.
Mas isso não é tudo. Há mais trabalho a ser feito e o trabalho de auditores internos precisa ser mais efetivo, segundo Feely. “Os auditores precisam questionar mais e pensar mais nos riscos futuros. As evidências mostram que o trabalho não está sendo como deveria,” diz o diretor da PwC.
Na opinião de Feely, os participantes dos comitês de auditoria precisam participar mais ativamente das reuniões, questionar, fazer mais comentários e buscar esclarecer mais detalhadamente os relatórios financeiros. “É preciso que desconfiem mais e questionem se os números que estão vendo, de fato, correspondem com a ideia que eles têm da empresa. Às vezes eles duvidam de algo, mas pensam que a dúvida não é tão justificável a ponto de ser discutida.”
Tanto Cantale como Feeley concordam que a fraude do UBS não significa que o banco esteja fragilizado ou não tenha profissionais competentes no controle das operações financeiras. “Não tenho dúvidas de que os supervisores do UBS agiram com profissionalismo, como é de se esperar de um dos bancos que eu mais respeito no mundo”, diz Cantale. No entanto, pelo menos estes dois aspectos mostram que os bancos ainda têm lições a aprender.
Fonte: Olívia Alonso, iG
