Após escândalo do FGC, BB assume carteiras de crédito do Cruzeiro do Sul
As carteiras de crédito consignado do banco Cruzeiro do Sul – liquidado desde setembro de 2012 pelo Banco Central (BC) – passarão a ser administradas pelo Banco do Brasil. A instituição oficial vai substituir a IMS Tech, que teve o contrato rompido após denúncia de favorecimento.
O Estado apurou que o liquidante do Cruzeiro do Sul, Eduardo Félix Bianchini, escolheu o BB pela experiência que o banco possui com esse tipo de operação. Hoje, é o banco brasileiro com o maior volume de empréstimos com desconto em folha de pagamento.
Também pesou o fato de o BB ser, entre as instituições financeiras, a que comprou a maior parte das carteiras do Cruzeiro do Sul, que juntas podem chegar ao valor aproximado de R$ 4 bilhões. Além do BB, as operações foram adquiridas pela Caixa Econômica Federal, pelo Bradesco e pelos estatais Banrisul (Rio Grande do Sul) e Banestes (Espírito Santo). Quando se analisa todos os compradores, porém, a maior parcela foi comprada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que detinha mais de 70% das carteiras.
O Fundo e os outros bancos depositaram nas mãos do BB a difícil missão de conseguir recuperar as parcelas não pagas dos empréstimos, com a cobrança dos inadimplentes e o direcionamento das parcelas às instituições credoras.
O agravante é que algumas dessas operações foram desmembradas, isto é, uma mesma carteira foi vendida para duas instituições diferentes, sendo que as primeiras parcelas pertencem a um banco e o restante, a outro. A prática não é proibida pelo BC, mas tornou-se um impedimento para que cada instituição renovasse as operações que comprou do Cruzeiro do Sul, uma vez que dois bancos distintos teriam que negociar com o mesmo devedor.
Pelo trabalho, o BB cobrará menos de R$ 0,11 por contrato de crédito conciliado, valor que cobrava a IMS Tech. Isso será possível por causa do ganho de escala: como tem um volume elevado de renovações desse tipo de operação, o custo para fazer a administração dessas carteiras diminui. O atual liquidante do Cruzeiro do Sul conta com a experiência e as ferramentas que o BB possui para conseguir um bom termo nessas conciliações.
Além de tentar restaurar a “credibilidade do sistema” consignado, o banco público também assumiu essa responsabilidade porque precisa recuperar cerca de R$ 500 milhões dos contratos que comprou do Cruzeiro do Sul.
Pente-fino. A primeira função do BB assim que assumir essa atividade é avaliar todo o trabalho feito pela IMS Tech, que foi colocada em suspeita após denúncia publicada pela revista Época. Segundo a publicação, os acionistas dela foram sócios de Celso Antunes em outra empresa, um mês antes deste assumir a diretoria executiva do FGC. Ou seja: no comando do FGC, Antunes teria favorecido a IMS. Ele e um diretor, José Lattaro, pediram demissão após a publicação da reportagem.
O BB pode contribuir com a sua experiência para solucionar a celeuma que envolveu, inclusive, a diretoria do BC. Segundo denúncias da revista, negadas pela autoridade monetária, os diretores do BC e o presidente da instituição, Alexandre Tombini, sabiam que os diretores do FGC favoreciam os ex-sócios nesses negócios.
Procurado, o BB informou que não pode se manifestar pelo sigilo comercial que cerca a operação. Além disso, a instituição está em período de silêncio, antes de divulgar o balanço do terceiro trimestre deste ano.
É uma demonstração de bom senso passar a carteira para o BB e outros bancos. Afinal, os clientes do finado Banco Cruzeiro do Sul (tanto os dos empréstimos consignados, como os de investimentos, sejam estes nacionais ou estrangeiros) não podem pagar pelos ilícitos cometidos por organizações criminosas que estiveram à frente do Cruzeiro.
Obrigar algum cliente bancário ao prejuízo é o mesmo que o Estado não oferecer ao homem de bem, absolutamente, nenhum policiamento e mandá-lo, se quiser reaver seu bem roubado, ir atrás da bandidagem armada.
Sob pena de responsabilidade, o Estado não escapa de oferecer segurança pública ao cidadão; assim também, é completamente fora de propósito permitir que os investidores sejam levados a algum prejuízo.
Os investidores que escolheram aplicar no Brasil, acreditando em nossas instituições, de nenhum modo poderiam estar sendo sacrificados, como ocorre hoje dementemente.
Enquanto uma solução não for dada, e que seja favorável aos aplicadores do finado banco, será perda de tempo, e mais do que isso humilhação, além de desperdício do dinheiro público, ir a Presidenta da República ao exterior para atrair investidores, sob o argumento de que aqui os contratos são respeitados!