Antes de BC agir, dono do Cruzeiro deixou gestora
Menos de um mês antes de o Banco Central decretar a intervenção no Cruzeiro do Sul, Luis Octavio Indio da Costa deixou de figurar como controlador da Verax, gestora de recursos que têm sob sua tutela cerca de R$ 4 bilhões em fundos do próprio banco. Indio da Costa detinha 51% da empresa de gestão de fundos de investimento e é um dos principais sócios do Cruzeiro do Sul, com 30% das ações ordinárias da instituição.
As ações antes detidas por ele foram vendidas em maio a Marcelo Xandó e a Marcio Dreher, que já eram sócios minoritários da Verax. Procurado pela reportagem para explicar o motivo da operação, Luis Octavio não foi encontrado até o fechamento desta reportagem.
Em um comunicado enviado ao Valor, a Verax afirmou que a mudança foi concretizada em junho, quando a documentação foi registrada na Junta Comercial. Mas a gestora disse que a transação começou no início de 2011, quando a Verax contratou uma consultoria para o “redesenho e aprimoramento dos processos internos e evolução dos princípios de autorregulação”.
Na Junta Comercial, os documentos foram registrados dois dias depois da intervenção do Banco Central (BC), em 6 de junho. A assembleia que sacramentou a mudança de controle ocorreu em 7 de maio, de acordo com a Verax.
O BC optou por adotar o Regime de Administração Especial Temporária (Raet) no Cruzeiro do Sul depois de descobrir fraudes nas operações de crédito consignado durante fiscalização feita entre março e abril. Também foram encontradas provisões para créditos em quantidade inferior à necessária.
Cerca de metade da carteira de crédito do Cruzeiro do Sul – R$ 3,8 bilhões – é carregada em fundos de direitos creditórios geridos pela Verax. O banco cede os empréstimos que origina para fundos dos quais também é cotista. Até o fim do 2011, a gestora era responsável por quase 100% dos empréstimos do banco.
A mudança se deu quando o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) abriu uma linha de liquidez para o Cruzeiro do Sul de R$ 3,6 bilhões, por meio da compra de empréstimos consignados do banco. Nessa ocasião, a opção do FGC foi por deixar a gestão do fundo a cargo de uma empresa independente, o que levou à contratação do Bradesco.
Além da gestão dos FIDCs do Cruzeiro do Sul, a Verax também cuida da carteira de fundos de investimento que eram captados com clientes e gerentes do banco e que investiram em uma empresa controlada por Luis Felippe Indio da Costa, pai de Luis Octavio e controlador do Cruzeiro até a intervenção. São os fundos Platinum e Equity, que somam R$ 450 milhões.
Por não ser controlada pelo banco, a Verax não sofreu o processo de intervenção decretado pelo Banco Central. Além do próprio Cruzeiro do Sul, foram afetados pelo regime especial a Cruzeiro do Sul Corretora de Valores e Mercadorias, a Cruzeiro do Sul DTVM e a Cruzeiro do Sul Companhia Securitizadora.
Atualmente, o Cruzeiro do Sul está sob o comando do FGC, que possui uma exposição ao banco de R$ 2,2 bilhões. Quase 100% disso se refere a depósitos a prazo com garantia especial (DPGE), papéis que são assegurados pelo fundo até o limite de R$ 20 milhões por aplicador.
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