Diretoria vende R$ 1 milhão em ações
A diretoria do Panamericano vinha vendendo ações do banco nos últimos quatro meses. Mas foi em setembro e outubro que se concentrou a maior parte das transações, conforme apontam os formulários consolidados com os detalhes das negociações enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No total, a diretoria vendeu mais de 120 mil ações preferenciais (PN, sem direito a voto), num total de R$ 1,018 milhão.
De acordo com o documento relativo a outubro, divulgado ontem, a diretoria vendeu 85 mil ações preferenciais do Panamericano em três diferentes dias (28 de setembro, 7 e 13 de outubro). A preços que variaram de R$ 8,13 a R$ 8,98, os executivos embolsaram R$ R$ 725,952 mil. Ontem, dia seguinte à descoberta do rombo e à destituição de toda a diretoria, os papéis despencaram 29,54%, valendo R$ 4,77.
Em setembro, a venda – feita em 16 diferentes transações no dia 24 -, envolveu 30 mil papéis, a preços entre R$ 7,93 e R$ 8,20, no total de R$ 241,514 mil. Em julho e agosto, os diretores venderam 5,7 mil ações, a R$ 50,874 mil.
Se as irregularidades no Panamericano foram descobertas há seis semanas pelo Banco Central, isso significa que teve venda depois da fiscalização, acendendo uma luz amarela sobre a possibilidade de a transação ter sido feita com informação privilegiada. “Não dá para acreditar que foram vendas inocentes”, destaca um analista. Segundo ele, isso já aconteceu anteriormente envolvendo executivos e conselheiros de empresas que estavam em negociação de fusão.
Ele cita o caso de um dos controladores da Agra Empreendimentos Imobiliários, que teria negociado ações de posse de informação privilegiada acerca de negociações com a Cyrela. Na ocasião, Mário Austregésilo de Castro, um dos controladores da Agra, teria comprado ações da companhia antes do anúncio de união com a Cyrela, assim como vendido parte dos papéis dias antes de as empresas comunicarem a desistência do negócio.
Em setembro do ano passado, a CVM aceitou proposta feita pelo empresário de pagar R$ 1,4 milhão para encerrar o processo. O valor correspondeu ao dobro de eventual ganho obtido por Castro nas transações, além de outras possíveis infrações como a negociação de ações 15 dias antes da divulgação de balanço.
Outro caso envolveu a Sadia e a crise dos derivativos cambiais, em 2008. Segundo relatório enviado à CVM, a diretoria da companhia vendeu o equivalente a R$ 185 mil em ações preferenciais no mês em que foram anunciadas as perdas com derivativos. A movimentação gerou inquérito na autarquia. Procurada pela reportagem, a CVM informou que não comenta casos específicos.
Fonte: Alessandra Bellotto, Valor Economico