Crise de Reputação: Olympus mantém êxodo de executivos
A Olympus, fabricante de câmeras fotográficas do Japão, disse ontem que três diretores acusados de orquestrar uma grande fraude contábil pediram demissão, e sinalizou que mais executivos deixarão a companhia dentro de uma ampla reorganização administrativa.
O anúncio é a mais recente tentativa da companhia de conter os danos provocados por um dos maiores escândalos contábeis já registrados no Japão, envolvendo mais de US$ 1 bilhão em recursos desviados e registros financeiros supostamente falsificados durante duas décadas.
A notícia foi divulgada na véspera de uma reunião do conselho de administração em que Michael Woodford, o ex-presidente executivo que expôs o caso, iria se deparar com os diretores acusados e outros membros do conselho pela primeira vez desde que foi demitido no mês passado.
Woodford, que disse que o conselho inteiro da Olympus estava “contaminado”, chamou as demissões de “um acontecimento encorajador”. Ele afirmou ontem que pretendia participar, na manhã de hoje, de uma reunião do conselho, depois de retornar do Reino Unido para o Japão esta semana para falar com as autoridades japonesas que estão investigando o caso.
Os três homens demitidos – Tsuyoshi Kikukawa, Hisashi Mori e Hideo Yamada – já haviam aberto mão ou sido demovidos de suas funções executivas, mas continuavam no conselho de administração da Olympus.
O presidente da Olympus, Shuichi Takayama, sugeriu em um comunicado que outros executivos da cúpula serão afastados na assembleia anual dos acionistas da companhia no ano que vem. “Nós, administradores, estamos preparados para abrir mão de nossos empregos quando o caminho para a recuperação da Olympus está visível”, disse ele. “Seria intolerável para a atual administração se engajar na autoproteção.”
A Olympus ainda corre o risco de ter suas ações retiradas da Bolsa de Valores de Tóquio, destino que, segundo alguns analistas, seria a punição padrão para problemas contábeis dessa escala. Mas em uma mesa redonda em Tóquio, Woodford apelou com veemência às autoridades reguladoras para que elas permitam a continuidade dos negócios com as ações da companhia na bolsa.
“Sou totalmente contra a retirada das ações da bolsa pelos seguintes motivos: acredito que seria ruim para os funcionários, acredito que seria ruim para os acionistas e acredito que seria ruim para qualquer detentor de participação”, disse Woodford, mesmo tendo encorajado funcionários responsáveis pela imposição da lei e autoridades reguladoras a continuarem investigando a contabilidade da companhia. “Não removam a Olympus [da bolsa]; isso não vai ajudar em nada.”
A imprensa japonesa vem dando uma intensa cobertura ao retorno de Woodford ao país, embora ainda não esteja claro o quanto as autoridades locais estejam determinadas a investigar a fundo o escândalo.
Woodford disse ontem que reuniões com promotores públicos, a polícia de Tóquio e funcionários graduados da Securities Exchange and Surveillance Commission o deixaram com a “sensação de alívio” de que as autoridades estão levando o caso a sério.
“Eles me garantiram – mas não vou entrar em detalhes – que vão rastrear o dinheiro”, disse Woodford. “Acho que a justiça será feita.”
Em comentários feitos antes do anúncio da notícia das demissões dos três diretores da Olympus, Woodford sugeriu que a reunião do conselho de hoje poderá ser “terrivelmente desagradável”. “Terei de beber alguns gins e tônicas para me preparar para ela”, disse ele brincando. (Tradução de Mário Zamarian)
Fonte: Jonathan Soble e Mure Dickie | Financial Times, Valor Economico