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O retorno de muitos planos de previdência decepciona

Os brasileiros, em geral, não são grandes investidores, para dizer o mínimo. Diversas pesquisas mostram que a maioria se preocupa com o futuro, mas não a ponto de guardar dinheiro de forma organizada para ter alguma tranquilidade financeira em 20 ou 30 anos.

O carioca Rodrigo Bonel é uma exceção. Dono de uma loja de roupas infantis, ele diz aplicar, todos os meses, 15% do que recebe num plano de previdência. Faz isso há cinco anos, desde os 29 — e o objetivo é parar de trabalhar aos 65.

O problema é que Bonel não sabe se está fazendo um bom investimento. Ele até junta um bom dinheiro, mas, hoje, não tem ideia se essa reserva será suficiente para permitir que ele passe a viver dos rendimentos de suas aplicações no futuro.

Perguntado pela reportagem sobre qual é o retorno de seu plano de previdência, o empresário não soube responder. Também não sabe qual é o valor das taxas cobradas pelo plano. E ele tem rendido mais do que a inflação?  “Assim, de bate-pronto, não sei dizer.”

Como fizeram milhões de investidores nos últimos anos, Bonel aplicou num plano de previdência achando que essa era a melhor opção para guardar dinheiro por um prazo longo. Essas aplicações oferecem vantagens fiscais para quem mantém seus recursos ali por vários anos: é possível pagar apenas 10% de imposto de renda, a menor alíquota do mercado financeiro.

Além disso, o imposto só é cobrado no saque, e não ao longo do investimento, como ocorre nos fundos. Para quem planeja aplicar, ao todo,  por quase 40 anos, como Bonel, um plano de previdência pode ser até 25% mais rentável que um fundo tradicional.

De olho nesse potencial, cada vez mais gente coloca dinheiro nesses planos. Hoje, há 12 milhões de investidores. O patrimônio, de 348 bilhões de reais, aumentou 140% desde 2008

Só que essas vantagens apenas se tornam palpáveis para os investidores se os planos de previdência tiverem desempenho semelhante ao dos fundos de renda fixa — e o problema é que, em geral, não é isso o que acontece. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita, a pedido de EXAME, pela consultoria NetQuant, especializada em análise de investimentos.

Na média, os planos cobram taxas mais elevadas para gerir o dinheiro dos investidores e rendem menos do que títulos públicos de renda fixa, por exemplo.

Nos últimos cinco anos, enquanto os papéis do governo atrelados à inflação renderam 125%, os planos de previdência de renda fixa tiveram rentabilidade de 54% e os planos de previdência multimercados, de 50%. Ainda de acordo com o levantamento, que analisou 536 planos, um quarto deles perdeu da inflação no período.

Alto custo

O grande problema dos planos, segundo especialistas, são as taxas. Em média, os planos de previdência que investem em renda fixa cobram 1,6% ao ano sobre o patrimônio aplicado, o triplo dos fundos de mesmo perfil; os  planos de previdência multimercados também cobram 1,6%, 78% mais do que os fundos da mesma categoria.

No Reino Unido, 1% é o teto para a previdência. Fora isso, alguns planos brasileiros descontam de cada nova aplicação uma “taxa de carregamento”, que fica entre 1% e 4% do valor investido — fundos normais não cobram isso.

No passado, havia ainda uma taxa de saída, que ficava ao redor de 2% e era cobrada sempre que o cotista tirava dinheiro do plano (quase todos os gestores aboliram a cobrança nos últimos anos ou mantiveram a taxa apenas para quem saca em poucos meses). “É o investimento que mais cobra do investidor”, diz o advogado Roberto Mohamed, especializado em previdência

Por quê? A principal explicação tem a ver com o momento em que os planos de previdência mais populares do mercado, os PGBLs e os VGBLs, surgiram. Em 1998, o governo aceitou a sugestão das instituições financeiras e permitiu que fossem criados investimentos de longo prazo com benefícios fiscais, como nos Estados Unidos.

Assim surgiu o PGBL, cujas aplicações podem ser descontadas do valor que os investidores têm a pagar na declaração anual de imposto de renda. Quatro anos depois, foram criados os VGBLs, voltados para quem não faz essa dedução na declaração anual.

Nessa época, os juros estavam em quase 30% ao ano — e mesmo os planos que cobravam taxa de administração de 4% ao ano, fora as taxas de carregamento e de saída, rendiam bem mais do que a inflação.

Para atrair mais investidores, diversos gestores lançaram planos com aplicação mínima baixíssima — a Brasilprev, empresa de previdência do Banco do Brasil, tem um cujo investimento inicial é de apenas 25 reais.

“Nesses casos, a taxa precisa ser alta para remunerar minimamente os profissionais e arcar com os custos  do plano”, diz Osvaldo do Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) e um dos idealizadores do modelo dos PGBLs e VGBLs.

“Quem aplica 50 reais por mês com uma taxa de administração de 2% e uma de carregamento de mais 2% paga 24 reais para o gestor por ano. Isso mal cobre os custos do envio de documentos a ele, como extratos.”

Faz sentido para os bancos e gestores, mas não para os investidores — especialmente com os juros em 7,5% ao ano. Os especialistas recomendam que, em vez de colocar dinheiro em planos com aplicação mínima baixa e taxas elevadas, os investidores juntem recursos na caderneta de poupança ou em títulos públicos para conseguir um valor inicial maior e taxas menores.

Leia mais em: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1042/noticias/futuro-em-risco

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.