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O que é mercado a termo? Entenda o caso Marfrig

O mercado a termo é um tipo de derivativo. O investidor consegue montar uma posição em ações utilizando financiamento de terceiros. No início de agosto, operações desse tipo realizadas por fundos da gestora GWI provocaram aumento da liquidez das ações ordinárias de Marfrig (MRFG3) e deprimiram ainda mais o preço da ação.

Suponhamos que o investidor desejasse comprar MRFG3 no início de julho e não possuísse recursos ou desejasse montar uma posição alavancada. Esse investidor conhecido como “tomador do termo” procuraria uma contraparte denominada “doador do termo” que faria a compra das ações no mercado. O tomador tinha a expectativa de que as ações MRFG3 se valorizassem no curto prazo (por exemplo, três meses).

No exemplo, o doador adquiriria essas ações no mercado e as carregaria até o vencimento do contrato. Ao final do contrato, o tomador recompraria as ações, pagando o valor original das ações e mais os juros pactuados com o doador. A remuneração do contrato a termo apresenta um prêmio sobre o CDI do período (103%, 104% do CDI, por exemplo). Para o doador essa operação é uma aplicação de renda fixa.

Caso as ações se valorizassem mais do que o preço do contrato e mais os juros, o tomador revenderia as ações no mercado, ficando com o lucro da operação. Contudo ocorreu o inverso. MRFG3 apresentou forte queda no período. Após o rebaixamento do “rating” dos Estados Unidos, o Ibovespa apresentou queda de 8,1% em 8 de agosto. Como MRFG3 apresenta beta elevado em decorrência do seu elevado endividamento, as ações do frigorífico apresentaram queda bem mais expressiva, de 24,8%, no mesmo dia. Veja mais sobre o conceito de beta no post “As ações defensivas do Ibovespa” de 9 de agosto (confira o endereço do blog no fim da coluna).

O tomador, para montar uma operação no mercado a termo, precisa depositar margem na CBLC (Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia). Essa margem é exigida como garantia do pagamento. Caso as ações se valorizem, a CBLC pode liberar parte dos recursos depositados como garantia. Se as ações se desvalorizem, a CBLC solicita mais recursos para compor essa margem.

Com a queda abrupta de MRFG3, os fundos da gestora GWI, que eram grandes “tomadores a termo” das ações de Marfrig, foram chamados a entregar mais garantias, mas não conseguiram. A fim de evitar mais perdas, os contratos a termo foram finalizados. O tomador comprou as ações de MRFG3 do doador pelo valor pactuado, as vendeu no mercado à vista a um preço menor do que o do contrato a termo e arcou com o prejuízo. O Fundo Private da GWI, por exemplo, apresentava patrimônio negativo de R$ 22,7 milhões no dia 12 de agosto.

O encerramento das posições a termo produziu três efeitos: aumentou o número de contratos a termo negociado, a liquidez das ações no mercado à vista e contribuiu para depreciar ainda mais a cotação de MRFG3 (que já havia caído de R$ 15 para R$ 9,02 entre 3 e 8 de agosto).

O número de contratos a termo negociados dispararam a partir de 9 de agosto (249,3 mil), atingindo 451,1 mil contratos em 11 de agosto. A título de comparação, entre 3 e 8 de agosto, o total de contratos a termo negociados tinha sido de apenas 188,4 mil. Essas operações impulsionaram a liquidez diária de MRFG3 no mercado à vista: de R$ 48 milhões no dia 5 de agosto para R$ 232 milhões no dia 9. Além do aumento da liquidez, a desmontagem dos contratos a termo depreciou ainda mais MRFG3, pois o tomador as vendeu no mercado. Entre 8 e 11 de agosto, enquanto o Ibovespa ensaiava uma alta de 9,6%, MRFG3 se desvalorizava outros 6,7%. A cotação recuou ainda mais para R$ 8,42 no dia 11.

Fonte: André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.