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Modelo de Gestão: Corrupção por toda parte, e na política

Satanizar a política, a médio e longo prazos, é um risco à democracia seja no Brasil seja em outros países – especialmente do Ocidente – que a adotam. A política é ferramenta essencial para a evolução democrática, permitindo o debate para evolução da sociedade e a regulação de suas relações, respeitados os direitos de todos nós, e das minorias.

Feita esta ligeira colocação, espantam a todos os números e os efeitos da corrupção e do desvio de dinheiro público que assolam o Brasil – e, certamente, outros países. Porém, nos mais evoluídos, as ferramentas de controle e o combate à impunidade são mais eficazes e permanentes.

Como já disse o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, no dia da Padroeira do Brasil, a corrupção “está por toda parte” (Folha de S. Paulo, 12 de outubro de 2011).

Acrescento: não só na política, mas no conjunto da sociedade. Há grandes empresas privadas, por exemplo, que rastreiam a viagem de seus funcionários para checar se eles não trocam de hotéis escolhidos, por hospedagem em outros mais baratos, para ganhar “uns reais”/”uns dólares”/”uns euros”, por fora.

Outro exemplo, entre dezenas de casos: a maioria dos adultos conhece a nota fiscal de “valor a mais”.

A última Veja (26 de outubro de 2011, data de capa) trata do tema com a manchete “Dez motivos para se indignar com a corrupção”. Relaciona outros mais no texto das páginas internas. Escreve que “720 bilhões de reais foram roubados dos cofres públicos brasileiros nos últimos dez anos (51% de recursos federais, 30% estaduais e 19% municipais), segundo estimativa da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (Fiesp)”.

A corrupção drena anualmente 85 bilhões de reais, o equivalente a 2,3% de toda a riqueza produzida pelo país. Dos bilhões desviados a cada ano, o governo só consegue descobrir 1%. Com 85 bilhões de reais, segundo a revista, seria possível:

– Erradicar a miséria no Brasil, tirando dessa condição 16 milhões de pessoas – e ainda sobrariam 5 bilhões de reais.

-Pagar o benefício máximo (242 reais mensais) do programa Bolsa Família para 13 milhões de famílias por mais de dois anos.

-Aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita de cada brasileiro (sua renda, portanto) de 19.265 reais por ano para 19.708 reais (mais 443 reais).

-Construir 28 mil escolas para 360 alunos cada uma.

-Formar 312 mil médicos nas melhores universidades particulares do país – atualmente formam-se 16 mil por ano.

-Pagar 17 milhões de sessões de quimioterapia para tratamento de câncer.

-Custear 34 milhões de diárias de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) nos melhores hospitais particulares do Brasil.

-Construir 33 mil unidades de pronto atendimento 24 horas.

-Construir 1,5 milhão de casas populares, suprindo assim 30% do déficit habitacional do Brasil.

-Construir 241 quilômetros de metrô, mais que o dobro do que existe hoje em São Paulo e no Rio de Janeiro.

-Construir 36 mil quilômetros de estradas, o equivalente a 17% do que existe hoje.

-Custear 2 milhões de bolsas de mestrado.

-Comprar 18 milhões de bolsas de luxo (iguais aquelas com que os corruptos presenteiam sua mulher e amantes).

Veja aponta que, no governo, campeão de irregularidades, em reais, é o Ministério da Saúde, seguido das pastas de Integração Nacional e de Educação.

FONTE OFICIAL

Há números diferentes, também gigantescos.

O Globo (dia 23) tem a manchete “Corrupção deixa escapar R$ 67 bilhões em 8 anos”, seguida do destaque: de cada R$ 100 desviados, governo federal só recupera R$ 2,34. Os dados são de fonte oficial. “De 2003 a 2010, pelo menos R$ 67,9 bilhões foram desviados dos cofres públicos para o ralo da corrupção. Os dados são da Advocacia Geral da União (AGU), órgão encarregado de cobrar dos devedores o dinheiro perdido. A AGU admite que, nesse período, só conseguiu recuperar R$ 1,5 bilhão. Ou seja, de cada R$ 100 desviados, só R$ 2,34 voltam para a União. Do total recuperado, mais de 93% são referentes a convênios com entidades, prefeituras e estados. Um caso exemplar é o do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF), condenado em 2001 a devolver R$ 900 milhões, em valores atualizados. Até agora, a União só recebeu R$ 54,9 milhões”.

Informa-se ainda que, por lei, as ações não prescrevem, mas muitos acusados acabam transferindo seu patrimônio a terceiros para escapar da cobrança. A AGU diz que o total de dinheiro recuperado vem crescendo nos últimos anos e criou um grupo de 120 advogados encarregados de resgatar as verbas desviadas.

ROUBALHEIRA RECORDE

Há, neste cenário, casos específicos também assustadores. Editorial de O Estado de S. Paulo (dia 16) trata de “Roubalheira recorde” no Estado do Amapá, um dos mais pobres da federação.

“Inquérito feito com a colaboração de técnicos da Controladoria-Geral da União (CGU) revela o envolvimento de membros dos Três Poderes estaduais, do Tribunal de Contas e da prefeitura da capital, Macapá, em desvios de recursos públicos que somaram, ao longo de dez anos, cerca de R$ 1 bilhão”.

O jornal acrescenta que, em junho, na maior moita, a verba indenizatória dos 24 deputados estaduais do Amapá foi elevada para inacreditáveis R$ 100 mil por mês. Essa verba indenizatória é quase três vezes maior do que a paga pela Assembléia de Alagoas – de R$ 39 mil -, considerada recordista em generosidades no trato de seus deputados, até que se conheceram os hábitos amapaenses. E corresponde a sete vezes o que os deputados federais recebem para cobrir as mesmas despesas gerais de aluguel, transporte e consultoria.

Ao mesmo tempo, a Assembléia Legislativa está caindo aos pedaços. “A verba que sobra para a farra dos deputados falta para manter o prédio em condições minimamente dignas. A Casa tem 3.121 funcionários, apenas 134 efetivos. Os demais são nomeados pelos deputados. Mas não são encontrados no prédio, até porque a maior parte é constituída de fantasmas. Entre os quase 3 mil comissionados, outra revelação inacreditável: 626 ocupam o cargo de agentes parlamentares da presidência; 272 atuam como agentes especiais da presidência e 89 são assessores especiais da presidência. Ao todo, 987 para servir ao chefe do Legislativo”, escreve o Estadão.

AVANÇO

Em meio a tanta crítica, a sociedade vai avançando. A Câmara Federal aprovou um projeto que amplia e fortalece as investigações sobre lavagem de dinheiro, passando a incluir, por exemplo, caça-níqueis e bingos. Serão monitorados negócios de empresários de jogadores de futebol e artistas. O projeto vai agora para o Senado, segundo O Globo (dia 26). Mais: o Supremo Tribunal Federal informa que decidirá logo se Ficha Limpa valerá para 2012.

A Folha de S. Paulo (dia 26) define como “boa notícia” sua manchete. Senado aprova fim do sigilo eterno de dados. “Se for sancionada pela presidente Dilma Rousseff, lei limitará a 50 anos segredo de papéis dos três Poderes e em todos os níveis de governo – União, Estados, Distrito Federal e cidades. Hoje, os papeis são mantidos em segredo por até 30 anos, prazo que pode ser renovado indefinidamente. Porém, na opinião do colunista Fernando Rodrigues, “nada garante que o pais amanhecerá mais transparente; é preciso implantar uma nova cultura de armazenamento de dados”.

Fonte: José Aparecido Miguel, JB online. As opiniões expressas neste artigo refletem unicamente os pontos de vista do autor, não sendo de responsabilidade deste blog as informações contidas neste artigo.

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.