Mau humor ameaça aberturas de capital
O mau humor dos mercados globais, agravado na semana passada por conta da violência no Egito, já ameaça a retomada das aberturas de capital na BM&FBovespa. As captações secaram em 2010 por conta da megaoferta de ações da Petrobras e só voltaram no final de janeiro.
Empresas de portes médio e pequeno, que só recentemente profissionalizaram a gestão para atender as exigências para abertura de capital, correm o risco de não ter demanda por seus papéis.
De “queridinho” até o final de 2010, o Brasil passou a ser visto nas últimas semanas como país “caro”, quando comparado com empresas americanas e europeias que voltam a despertar o interesse dos investidores com a melhora em suas economias.
Neste ano, já entraram na BM&FBovespa quatro novatas: a rede calçadista Arezzo, a administradora portuguesa de shoppings Sonae Sierra, a fabricante de autopeças Autometal e a Queiroz Galvão Exploração de Petróleo, cujos papéis estreiam hoje.
Dessas, só a Arezzo conseguiu captar o que inicialmente previa na Bolsa. A calçadista levantou R$ 568 milhões com a venda de ações pelo preço máximo previsto. No primeiro dia, as ações subiram 11,84%; desde a estreia, no último dia 2, os papéis mantêm ganho de 5,8%.
Todas as demais empresas tiveram de baixar a bola e reduzir o preço de suas ações.
Para viabilizar a abertura de capital, que estava em análise desde o início do ano passado, a Sonae teve de reduzir em quase 7% o preço mínimo de suas ações. Poderia ter levado R$ 537 milhões, mas só teve R$ 500 milhões.
A mesma coisa aconteceu com a Autometal, que baixou em 17,6% o valor dos papéis.
Até a Queiroz Galvão Exploração de Petróleo, uma das novas estrelas do setor, aceitou reduzir em 17,5%.
No forno, estão em análise as ofertas de seis novas empresas.
Duas são de setores novos, como de restaurantes (International Meal, dono das redes Viena, Frango Assado e Brunella) e de entretenimento (Time For Fun, que organiza shows). O sucesso delas abre as portas da Bolsa para outras empresas do ramo.
Para Eduardo Dotta, professor de Finanças do Insper, o humor do mercado mudou e acabou a “euforia” com as aberturas de capital. Dotta afirma, porém, que as empresas que demonstrarem consistência em seus balanços e na condução de seus negócios conseguirão dinheiro.
“Os novos IPOs [abertura de capital] ficam prejudicados pela demanda. O investidor está escaldado e quer qualidade; muitas vezes prefere ações que já conhece.”
Fonte: Toni Sciarretta, Folha de S.Paulo