Fundos levam calote em títulos de crédito do BVA
Os fundos de investimento que adquiriram títulos de crédito com lastro em empréstimos do Banco BVA, liquidado no mês passado pelo Banco Central, registram perdas nas carteiras em razão do calote das empresas devedoras. A venda de cédulas de crédito bancário (CCB) a fundos ou diretamente a investidores era uma forma de a instituição antecipar receitas para realizar novos empréstimos.
A maior parte dos títulos de crédito originados pelo BVA foi comprada pela Vitória Asset Management, que pertence a José Augusto Ferreira dos Santos, fundador do banco. Até a intervenção pelo Banco Central na instituição, em outubro do ano passado, os principais investidores da gestora eram fundos de pensão.
Os papéis eram adquiridos pelos fundos com o compromisso de recompra em caso de problemas, mas, com a quebra do banco os fundos precisam agora cobrar diretamente os devedores. Além dos problemas de inadimplência, eles enfrentam questionamentos de algumas empresas na Justiça sobre a dívida.
Um dos fundos da Vitória que registrou perdas é o Primazia, que tem como única cotista a Fundação Geap, que possui convênio com 99 órgãos governamentais. A instituição registrou uma provisão de R$ 38,4 milhões em razão do calote em títulos de crédito da Prol Editora Gráfica, Dedini Indústria de Base e Atac Participação e Agropecuária, que compõem a carteira do Primazia. Procurada, a Dedini informou que não possui relação direta com o fundo Primazia, mas não respondeu se realizou os pagamentos das CCBs. A Prol e a Atac estão em recuperação judicial.
A Geap se encontra desde março em regime especial instaurado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), em meio a problemas administrativos ou financeiros encontrados, como o patrimônio líquido negativo e a insuficiência de ativos garantidores. Procurada, a Previc não se manifestou até o fechamento desta edição.
Além das perdas nos fundos, a Geap também provisionou no balanço R$ 34 milhões contra uma perda de uma CCB emitida pela Bolero. A empresa tem entre os sócios os antigos controladores do BVA, que emitiam CCBs para capitalizar o banco.
A Petros, fundação de previdência dos funcionários da Petrobras, também financiou diretamente os sócios do BVA, com a compra de títulos da V55 Participações, empresa que, assim como a Bolero, foi usada para injetar capital no banco. A Petros tenta agora cobrar a dívida, que de acordo com demonstrativos de investimentos referente a 2012 era de R$ 45 milhões.
A fundação era uma das principais investidoras da Vitória, com R$ 708 milhões aplicados na gestora no fim do ano passado, o que inclui fundos que compraram títulos de crédito de empresas originados pelo BVA. Procurada, a Petros não respondeu ao pedido de entrevista. Os ex-controladores do banco não foram localizados para comentar o assunto, mas uma fonte próxima a eles confirmou a falta de pagamento em um pelo menos uma das CCBs, provocada pelo bloqueio das contas desde a intervenção no banco.
Com a liquidação do BVA, as fundações devem consolidar a perda no fundo de participações (FIP) Patriarca, criado para investir em ações do BVA. Entre os cotistas do FIP, que investiu aproximadamente R$ 330 milhões no banco, estão a Serpros, que tem como principal patrocinadora o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), a Infraprev, dos funcionários da Infraero, além da Fipecq, fundação de previdência de órgãos como a Finep, Ipea e CNPq, e da Fundação Refer, de estatais do setor ferroviário.
O Patriarca também reuniu outros investidores, como o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, controlador do grupo de revendedoras de carros Caoa, que liderou uma tentativa frustrada de compra do banco.
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