Escândalo acirra disputa pela sucessão de Buffett

Entre os investidores profissionais, adivinhar quem poderá suceder Warren Buffett, o octogenário financista e guru das ações, tornou-se uma espécie de jogo de salão, um meio de distração quando os negócios estão meio parados. Buffett pouco tem feito para acabar com essas especulações.

Ele já chegou a mencionar uma carta que ficou famosa porque começava com “Ontem eu morri”. Essa carta, enviada para o conselho de administração da Berkshire Hathaway, continha instruções sobre quem deverá assumir seu lugar em caso de uma partida súbita.

Na verdade, o planejamento sucessório de Buffett está um pouco mais adiantado do que parece. Ele pretende dividir seu cargo, com um executivo-chefe para comandar os negócios operacionais da Berkshire, e alguns diretores de investimentos para comandar suas carteiras de ações e bônus.

Recentemente, ele indicou que tem quatro ou mais candidatos internos em mente para comandar os negócios operacionais e um punhado de possibilidades para as posições de investimentos, incluindo Todd Combs, que contratou no ano passado para comandar uma carteira de US$ 3 bilhões.

Mesmo assim, a saída de David Sokol, que muitos consideravam o principal candidato ao cargo de executivo-chefe, iniciou especulações sobre quem será o novo favorito. Matthew Rose, de 51 anos, talvez seja o mais novo deles, tendo entrado paras a Berkshire depois que ela comprou a Burlington Northern Santa Fé, companhia ferroviária que ele comanda, por US$ 26 bilhões em 2010. Buffett descreveu esse negócio como “uma aposta completa” sobre o futuro econômico da América. Em carta aos acionistas, ele observou que a empresa tinha “a virtude adicional de ser comandada por Matt Rose, uma pessoa que admiramos e em quem confiamos”.

No entanto, talvez o principal candidato seja Ajit Jain, que comanda as operações de resseguros da Berkshire. Jain, de 59 anos, entrou para a Berkshire em 1986. Andrew Kilpatrick, autor de “Of Permanent Value: The Story of Warren Buffett”, disse que Jain ganhou projeção depois da saída de Sokol. “Ele tem a idade certa e o respeito de todos.”

Na Berkshire, Jain desenvolveu uma reputação de gosto pelo risco. Em 2000, ele fez seguro da saúde de Alex Rodriguez, depois que o jogador de baseball assinou um contrato de 10 anos por US$ 252 milhões. Recentemente, ele e Buffett viajaram pela Ásia à procura de oportunidades de investimento. Durante uma parada na Índia, Buffett disse que Jain “ama o que faz e não está de olho no meu cargo”. E acrescentou que se ele fosse “o conselho de diretores, provavelmente o colocaria ali em um minuto”.

Outra unidade de seguros da Berkshire, a Geico, oferece mais uma possibilidade na forma de seu presidente de 67 anos Olza “Tony” Nicely, embora sua idade seja uma desvantagem. Mesmo assim, Buffett não deixa de expressar sua admiração pelo executivo-chefe da Geico, dando a ele os méritos pelo crescimento dramático da companhia, ao mesmo tempo em que os custos foram mantidos em baixa.

Um candidato de fora para o principal cargo é Greg Abel, de 48 anos, presidente, executivo-chefe e agora presidente do conselho de administração da MidAmerican Energy Holdings Company. Buffett o descreve como “administrador fantástico”. Abel entrou para a MidAmerican em 1992 e rapidamente ganhou a atenção de seu chefe, Sokol, que escreveu em 2007 que ele “é um grande comunicador, um grande observador e um prazer de se ter como parceiro.

É claro que apostar qual deles será escolhido por Buffett é complicado, uma vez que o “Oráculo de Omaha” tem um estilo de tomada de decisões intuitivo. Ele contratou Combs sem muito alarde, baseado em sua intuição.

E Sokol não é o único candidato a cair durante a corrida. Em 2009, Richard Santulli deixou o cargo de presidente da NetJets depois que a companhia foi duramente atingida pela crise financeira.

Fonte: Jeremy Lemer, Financial Times, Valor Economico