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Dublê de banqueiro

j0433028Quem é bancário ou empresário, sabe: o melhor negócio do mundo é ser dono de banco. E o segundo melhor? O ex-bancário paulista Sérgio Eduardo Abrahão descobriu a resposta. Depois de trabalhar por duas décadas no mercado financeiro, em casas como Citibank, Banorte e Mercantil do Brasil, ele virou um representante do Banco Bonsucesso em Goiás. Sua empresa tem placa de banco, dinheiro de banco, concede empréstimos, mas não é banco. É correspondente bancário, uma figura que cresce como nunca no Brasil nos últimos anos.

Todos os meses, Abrahão concede de R$ 4,5 milhões a R$ 5 milhões em empréstimos consignados (com desconto em folha de pagamento) para funcionários públicos e aposentados pelo INSS em Goiânia, Anápolis e outras seis cidades do Estado. Sua rentabilidade bruta é de 6% a 7% por operação, em média. Para cada R$ 100 emprestados, ele ganha até R$ 7 para custear oito lojas e 39 funcionários. Com um investimento inicial de R$ 250 mil, Abrahão virou um próspero dublê de banqueiro. “Somos parceiros e ganho muito mais dinheiro hoje do que quando era bancário”, afirma.

Bruno Guerra, 28 anos, é outro exemplo que demonstra o poder desse recente canal bancário. Há cinco anos, quando ainda estava na faculdade, ele resolveu montar com o amigo André Luís Sana um correspondente exclusivo do Bonsucesso. Eles tinham R$ 3 mil em espécie e um Fiat Uno. Se especializaram em crédito consignado, reinvestiram os lucros e já estão com 44 lojas espalhadas nas principais capitais do Nordeste, do Sudeste e, recentemente, no Paraná. Ao todo, são 200 funcionários que recebem cerca de 500 pessoas por dia.

“A margem de lucro depende muito de região para região, principalmente porque o consignado é um empréstimo de valor muito pequeno e feito em grande quantidade”, diz Guerra. Nesse negócio, o risco de crédito é do banco, mas se houver fraude na concessão, o prejuízo é dos correspondentes.

O Banco Bonsucesso, sediado em Belo Horizonte, atinge por meio deles um público em várias regiões do Brasil a um custo muito menor do que teria se tivesse agências e equipes próprias nessas localidades. Como fez isso com outros 800 correspondentes, o banqueiro Paulo Henrique Pentagna Guimarães conseguiu dar ao Bonsucesso uma dimensão nacional.

Em 2009, a instituição fechou contratos de R$ 1,55 bilhão em créditos consignados, seu principal filão de negócios. Agora, já bateu na casa dos R$ 2,2 bilhões. Os correspondentes, que recebem, em média, 10% do que é produzido, respondem por 80% desse montante. “Não teríamos braço para ampliar nossa rede de atendimento no País apenas com lojas próprias”, afirma Guimarães.

O rápido crescimento desse negócio é a ponta de um iceberg. Os bancos limitaram a abertura de agências próprias e concentraram sua atenção nos correspondentes, que passaram recentemente a ser chamados de não bancários para evitar conflitos com os sindicatos da categoria. O crescimento médio de 30% ao ano dos correspondentes desde 2000 os colocou como o maior canal de relacionamento entre as instituições financeiras e seus clientes, com 108 mil pontos, equivalentes a 60% da rede de atendimento no País (veja gráficos).

No final de 2010, esse número pode chegar a 150 mil. “O correspondente bancário é importante para o banco, pois aumenta a presença sem aumentar o custo”, diz Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. “Para o empresário, ele gera receita que ajuda a diminuir o custo fixo. É bom para os dois lados.”

Foi com base nessa estratégia que o Bradesco pôde anunciar sua presença em 100% dos municípios brasileiros. São 26,3 mil correspondentes, desde as lojas dos Correios à pioneira agência flutuante, um barco que navega no rio Solimões e atende comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia desde dezembro.

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Para chegar aos rincões do País, os bancos precisam de tecnologia avançada. A transmissão via satélite acompanha em tempo real a movimentação do barco Voyager III, do empresário André Luiz de Araújo. Nos 11 municípios em que passa nas viagens de sete dias, milhares de pessoas fazem compras na embarcação, que também funciona como mercearia.

“A tecnologia é a grande responsável pela expansão do correspondente nas regiões mais afastadas”, diz André Martins, presidente da Rede Ponto Certo, empresa que criou o sistema que permite a operação do banco itinerante, sem endereço fixo. Além disso, são necessários programas afiados para avaliação de crédito, que cruzam os dados disponíveis sobre os consumidores e permitem liberações rápidas de recursos. “Investimos em tecnologia e sistemas de última geração para termos agilidade e segurança na concessão”, diz Pentagna Guimarães. Se algo der errado na avaliação de crédito, quem sofre mais não é o dublê, mas o banqueiro.

Fonte: Milton Gamez e Márcio Kroehn, Istoé Dinheiro

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

One thought on “Dublê de banqueiro

  • O correspondente bancário foi responsável pela expansão do crédito no Brasil e do acesso aos serviços bancários. Por maior que seja o banco ele não consegue sozinho atender à demanda da população por estes serviços.
    Apesar de ser um bom negócio, o correspondente bancário enfrenta diversos riscos, como assaltos e fraudes, que podem levar um correspondente à falência.

    Mas hoje o maior pesadelo do correspondente é em relação ao monopolio dos emprestimos consignados que está ocorrendo em alguns estados e municípios, forçando os correspondentes bancários a demitirem seus funcionários e inclusive a fecharem as portas ou trocarem de ramo.

    Edson Marcelo
    credinfo.com.br

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