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Contador revela esquema do rombo no Panamericano

fraude contabilRelato do contador do Panamericano aponta a rotina do banco nos anos que antecederam o rombo bilionário e revela como ruiu a instituição financeira de Silvio Santos. Marco Antonio Pereira da Silva, que trabalhou 31 anos no grupo, assumiu o papel de colaborador da Polícia Federal. Ele atribui diretamente ao ex-diretor financeiro, Wilson de Aro, a responsabilidade pelo malogro da política de captação e pelas operações que afundaram o banco.

O depoimento do contador foi filmado e gravado pela PF em 15 de dezembro. Ocupa dois DVDs. As revelações, transcritas, preenchem 87 páginas. Representam a mais importante prova da PF no inquérito que rastreia um capítulo de desvios no Panamericano. Gestão fraudulenta, crimes financeiros, ocultação de recursos e evasão de divisas são o alvo dos federais.

O relato do contador deu base à Justiça para decretar a quebra do sigilo bancário e fiscal de toda a cúpula do banco e autorizar buscas nos endereços residenciais e comerciais dos investigados. Silva decidiu espontaneamente delatar o que viveu e os procedimentos a que teria sido obrigado a seguir.

Confira a seguir trechos do depoimento do contador Marco Antonio Pereira da Silva

* “Embaixo do Rafael tinha outras empresas, não sei se 10 ou 11 empresas, tem corretora, tudo embaixo da administração do Rafael, esses bônus eram pagos por essas empresas. Elas sobrevivem em função do banco, se o banco não existe, elas não existem. O banco paga comissão pra essas empresas, pra prestadora, pra administradora, que são correspondentes do banco.”

* “Os diretores tinham bônus por resultado no banco. Certeza. Quem ganhava, assim, sobre resultado, os diretores estatutários. Todos. Os oito. Eles ganhavam sobre resultado. Esses bônus eram pagos através de nota, eles tinham PJ, emitiam nota e quem pagava esses bônus para eles eram as empresas que estavam debaixo da administração do Rafael, que era a administradora de cartões, perícia…”

* “Tem uma relação que a controladoria levantou, parece que eles (diretores) tiveram comissões, bônus altíssimos. Eu não imaginava desse tamanho, imaginava que fosse bem inferior. Se eu não me engano, o Wilson parece que recebeu sete e quinhentos, em 2009. Sete milhões e meio.”

* “O presidente? Aí tinha o valor lá de dez milhões que eu não sei se era do Sandoval ou se era do Rafael, eu não vi, porque era uma relação que uma pessoa tava falando comigo. Fora o salário deles. Só bonificação. Se eu não me engano era pago em maio e no final do ano. 80% no final do ano, eles fechavam novembro a novembro, apurava a avaliação deles, recebiam e depois pagava a diferença em abril, maio.”

* “Nós temos uma administradora de cartões e o banco, tá, têm operações, aquelas operações de maior inadimplência. Então, o cliente assina o contrato com a administradora que busca recurso no Panamericano. E o contrato diz o seguinte: entre a administradora e o banco, havendo inadimplência eu, administradora, vou e recompro esse contrato de você, banco, e cobro o cliente. A administradora é uma empresa pequena, ela mão tem capital para isso, então já começou errado por aí, colocou os contratos de maior inadimplência lá.”

* “Foi incapacidade mesmo. Então eles começaram porque essa operação, inicialmente, ela parecia bem estruturada, tá, mas a gente não imaginava que ia ter tanta inadimplência. Iniciaram as operações lá e dava o atraso. A administradora ia lá no banco e recomprava. Chegou um momento que a administradora não tinha mais capacidade financeira de honrar isso ao Panamericano.”

* “É bom deixar claro que a gente fala cartão, né, na verdade isso daí nem era cartão que a gente usa, de bandeira, era um contrato de financiamento que fazia pela administradora, e a gente desenhava tudo como se fosse.”

* “A gente percebeu que a administradora não estava honrando os inadimplentes, então pegava os ‘inaudível’ aqui e ia honrando, entendeu? Quando a gente percebeu a administradora não tinha capital pra isso.”

* “Eu falei: ‘Wilson, a administradora não tem dinheiro prá ficar honrando isso daí’. Aí ele falou: ‘Marco, mas eu não tenho como buscar isso no mercado, isso aí é muito caro, esse dinheiro prá administradora, né, não temos condições, e aí o que eu faço, então?’ Ele falou:’Ah, continua compensando a conta, continua compensando porque em algum momento eu vou captar pelo inaudível e devolvo o dinheiro.’

* “Eu tive que ir compensando porque segundo ele a arrecadação caía tudo no banco, foi indo, indo, indo, aí o que começou a acontecer, tem uma conta do passivo lá no banco, ela começou a sumir, ela começou a ficar sem saldo. aí eu já comecei a criar um resultado, um passivo descoberto.”

* “Era o Wilson (quem dava as ordens) , todo o meu contato foi o Wilson, ele respondia pro Rafael (Palladino).”

* “A administradora emprestava vamos dizer assim a 4% e ela buscava na conta garantia do banco a 1.5, aí a diferença de taxa era dela prá bancar a inadimplência. Aí que foi abrindo um buraco.”

* “Isso aí foi em 2006, chegou em 2008 veio essa crise que a gente não esperava e o banco começou a dar prejuízo. O Wilson, no desespero dele, porque ele se sentiu responsável pelo caixa do banco, ele falava: ‘Marco, o banco sem caixa não funciona, sem resultado ainda anda, mas sem caixa não. Mas prá eu ter caixa eu preciso de resultados, quem que vai botar dinheiro em um banco que não tá dando resultado? Então, você vai fazer o seguinte, você antecipa algumas receitas de cessões de crédito, que lá na frente eu faço e você amortiza depois.'”

* “Eu falo: Tá bom, mas como que eu vou fazer isso, eu vou creditar receita e vou debitar o quê? O que eu faço? Eu vou criar uma? Ele (Wilson) fala: Recompra o contrato, pega o contrato na condição de cedido, faz uma recompra e aí você vai ter ativo”. Aí já virou uma prática, porque era uma intenção. Então, eu comecei a registrar uma intenção dele, era antecipar receita de cessão e recomprar contratos.”

* “Só que em 2009 a situação piorou, o banco não produziu. A entrada de caixa continuou dificultosa, começou a criar uma dependência dessa situação de você ter que ficar recomprando contrato e gerando receita, antecipando receita. Aí que 2009 foi o pior ano, essa conta do passivo tinha sido usada para outra finalidade. Quando começou a cair o fluxo de pagamento de cessão pra outros bancos eu não tinha mais passivo.”

* “De receita, no banco, acho que gerou novecentos milhões ou um bilhão de receita mesmo, o resto foi esse buraco que foi abrindo em função dessas situações na administradora.”

* “O rombo, um bi e quatrocentos, né, um bi e quatrocentos mais 670 milhões, 700 milhões dessa situação que eu fui usando o passivo pra liquidar compromisso da administradora, tá. Então, aí deu dois bi e cem que o Banco Central chegou, dois bi e setenta e oito, dois bi e cem, um negócio assim. Essa foi a diferença do Banco Central. Dos dois bi e cem pro dois bi e meio, a negociação lá com o fundo garantidor que o Silvio fez, foi de pegar um recurso maior prá poder também ajustar a situação da administradora.”

* “Porque se ele (Silvio Santos) se desfizesse do banco ele ia ficar com a administradora e ia fazer o quê, então ele ia ficar com um problema ali. Então, ele pegou esse recurso a mais pra poder resolver a situação dos dois, entendeu?”

* “O Wilson falava: ‘Antecipa a cessão, reduz um pouco a comissão’. Ele que determinava, né. Ele falava: ‘Marco, eu preciso recomprar contratos vencidos, contratos de tantos milhões, contratos que estão nas condições assim de A, B.’ Acontecia todo mês. O Banco Central, quando a gente forma a carteira, dá um critério de provisionamento. Então, o contrato em A é um contrato bom, em B já tá com um pouquinho de atraso. Vai até H, que é péssimo.”

* O Wilson era muito impositivo, ele é uma pessoa difícil.”

* “O meu salário sempre foi o de mercado, o meu PLR era sobre metas, não era sobre resultado. Eu tinha metas de trabalho.”

* “Os diretores tinham bônus por resultado no banco. Certeza. Quem ganhava, assim, sobre resultado, os diretores estatutários. Todos. Os oito. Eles ganhavam sobre resultado. Esses bônus eram pagos através de nota, eles tinham PJ, emitiam nota e quem pagava esses bônus para eles eram as empresas que estavam debaixo da administração do Rafael, que era a administradora de cartões, perícia…”

* “Isso aí era uma determinação da holding. Quem pode falar melhor é o Baracat, é uma conversa que eu tive com ele. Ele falou: ‘Ó, o pessoal aqui ganha sobre resultado percentual, então, quanto mais resultado, mais eles ganham’. Eu, na contabilidade, eu vejo, esses resultados não são pagops pelas empresas que são auditadas, são pagos por empresas não auditadas, que é a administradora de cartões, que é a perícia, tem uma perícia corretora lá.”

* “Embaixo do Rafael tinha outras empresas, não sei se é 10 ou 11 empresas, tem corretora, tudo embaixo da administração do Rafael, esses bônus eram pagos por essas empresas. Elas sobrevivem em função do banco, se o banco não existe, elas não existem. O banco paga comissão pra essas empresas, pra prestadora, pra administradora, que são correspondentes do banco.”

* “Tem uma relação que a controladoria levantou, parece que eles (diretores) tiveram comissões, bônus altíssimos. Eu não imaginava desse tamanho, imaginava que fosse bem inferior. Se eu não me engano, o Wilson parece que recebeu sete e quinhentos, em 2009. Sete milhões e meio.”

* “O presidente? Aí tinha o valor lá de dez milhões que eu não sei se era do Sandoval ou se era do Rafael, eu não vi, porque era uma relação que uma pessoa tava falando comigo. Fora o salário deles. Só bonificação. Se eu não me engano era pago em maio e no final do ano. 80% no final do ano, eles fechavam novembro a novembro, apurava a avaliação deles, recebiam e depois pagava a diferença em abril, maio.”

* “Uma coisa que eu falo, falei pro Banco Central. Em um primeiro momento foi uma intenção de manter a empresa acreditando que isso ia ser revertido, mas, depois…Sempre receberam variável, mas aí depois o que começou a acntecer, acho que atrás dessa necessidade eles vislumbraram outras coisas, a possibilidade de ganhar mais. Prá mim dois fatores principais, um esconder a incompetência da administração, pra nõa perder, pra tentar reverter isso tudo.”

* “Foi formando um saldo alto e nós fomos tirando daí. Chegou um momento que essa conta, esse saldo foi terminando, aí começou a estourar, a conta começou a virar. Porque eu estava honrando os fluxos de cessão e já não tinha mais saldo. Aquele contrato que eu usei para outras coisas, já gastei. Aí vinha um fluxo pra pagar, não tem passivo aqui, não tem de onde tirar.”

* “O que também dificultava é que o fluxo de pagamento pra cessão não saía desse sistema. Tinha uma planilha à parte, então você desvinculava. O Marcos Augusto que é o controle financeiro fechava um lote de cessão, ele já fazia um fluxo numa planilha. Um contrato de cessão tem vários contratinhos, então ele fazia um fluxo mensal e através desse fluxo ele pagava os bancos e ele não quer nem saber o que acontecia com os contratos dele da base. Para ele não interessava. Se você pegar o fluxo dele hoje e pegar o que tem no banco e cruzar vai dar um prejuízo enorme.”

* “Esse período aí de 2007, quando a gente abriu o capital pra cá foi muito tumultuado lá, né, a gente teve muito trabalho, então isso cegou a gente também. Era balanço, abriu o capital passando DITR, coisa que não tínhamos convivido, CVM, captação externa, debêntures. Eu não trabalhava mais pra contabilidade. Nas últimas reuniões, o Wilson e eu a gente estava discutindo demais por causa dessa situação. A discussão era quando isso ia se arrumar, aonde isso ia chegar. Eu não podia nem sair do banco porque não adianta eu sair, porque isso não ia resolver a minha vida”

* “O Wilson falava assim: ‘Maco, calma, você tá comigo, não tem problema, isso quem fez fui eu’ Ele falava isso aí, quem faz sou eu, não é você. Ele deixava muito claro, ele era muito assim, quem tá frito sou eu não é você, entendeu? Tem o Claudio Baracat pra poder falar isso, ele participava das reuniões. Inclusive, quando isso estourou, eles estavam numa sala do Rafael, o Sandoval, o Claudio, o Adalberto, acho que o dr. Rui também, eu. Foi em setembro. O Sandoval ficou muito surpreso.”

* “O meu teto ali era o Wilson. Eu senti que o Rafael ficou surpreso com a notícia de que tinha esse valor e tal. Eu senti que ele ficou surpreso, não sei se foi encenação. O Rafael já ligou pro Sandoval. ‘Sandoval, vem pra cá, tem um problema sério aqui’. Aí chamou outro diretor e foi juntando pessoas na sala. Aí o Wilson falou: ‘Eu mandei fazer’. O Sandoval falou para o Wilson: ‘Você é um irresponsável, você sabe o que fez? Você comprometeu toda a estrutura, o acionista, os conselheiros, você é um irresponsável'” Foi na presença de todos.”

* “O Wilson falou: ‘Ah, Sandoval, isso aí foi uma necessidade do banco, senão o banco tinha quebrado’. O Sandoval disse: ‘Pô, mas o banco quebrar na crise é justificável, mas e agora o que a gente fala disso aqui?’ Aí o Wilson respondeu: ‘Eu só tentei salvar o banco, eu tentei fazer alguma coisa, tentando que tudo isso fosse reverter, mas não deu certo'”

* “O Silvio? Ele não participava da gerência do banco. Eu trabalhei 31 anos no grupo e eu fui conhecer o Silvio nesse problema aí. O Silvio me chamou na casa dele e foi muito educado. Ele ouviu de mim, do Baracat e eu fique sabendo que o Wilson de Aro também foi lá. Então, o Silvio me chamou, ele me ligou pessoalmente, pediu pra ir até a casa dele. Me recebeu muito educadamente e falou: ‘Marco, eu não quero saber quem foi e como foi, eu quero saber qual a proposta de solução, eu preciso saber qual caminho tomar’. Eu dei algumas ideias. Ele ouviu. A primeira situação, vender o banco. Aí a ideia era o Bradesco comprar, porque o Bradesco sempre quis comprar o Panamericano e o Silvio nunca quis vender. O Silvio acompanhava o banco através da holding.”

* “O Rafael, ele acreditava naquela gestão dele. Para ele estavam sendo bem conduzidas as coisas.

* “Para explicar para o Banco Central foi difícil até a saída dos diretores. Depois que eles saíram a coisa fluiu, porque aí eu falei naturalmente, passava documentos, não tinha mais ninguém acima de mim falando: não faça isso, faça aquilo …”

* “Tudo o que passava para o Banco Central eu tinha que mostrar para ele (Wilson de Aro). Tinha coisa que ele falava ‘não Marco, não mostra isso’. Aí eu falava: ‘Mas vou mudar?’ Ele falava: ‘Não, não muda. Só não passa, é diferente’.”

* “O problema do Panamericano era a qualidade do crédito, né? Então, o Panamericano sempre teve problema de dinheiro caro, uma estrutura muito grande e a qualidade do crédito.”

* “O banco, da forma que está sendo operado, não é lucrativo. Mas se a Caixa (Econômica Federal, sócia do Panamericano) chegar , mudar algumas coisas, começar a fornecer dinheiro mais barato para o Panamericano, ele tem condições de emprestar com taxas mais competitivas e pegar (passar a financiar) carros novos “.

* “O Rafael falou: ‘Marco, eu sei que você foi vítima dessa situação tanto quanto eu, então vou te dar uma assistência porque eu sei que você não tem condições. Vê um advogado e fala o preço para eu ver se tenho condições de pagar'”.

* “Eu tenho preocupação de eles de repente jogar isso em cima de mim. Sou fraco perante eles, nem recursos financeiros eu tenho. O Wilson bateu no peito, mas eu tenho preocupação, sei lá, eles de repente jogarem em cima de mim. Nunca trabalhei em outra instituição, o Rafael é parente do Silvio Santos, o Adalberto também tinha 11 anos de casa, o Wilson era o homem de confiança da holding, você tá assim, bem cercado, você fala, bom, estou bem cercado. De repente eu não sei o que aconteceu, foi assim, mudou de uma tal forma que…”

Fonte: Fausto Macedo e David Friedlander, de O Estado de S.Paulo

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.