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Compliance vai além do que imaginamos

Resultado de imagem para marcos assiAproveitando o momento de avaliação de nossos trabalhos e de muitos outros profissionais que como eu buscam a melhoria dos processos, das formas de executar as atividades, alinhar mudanças na gestão dos negócios e aprimorar as posturas das pessoas, o que me permite apresentar um pouco mais do que podemos fazer nas questões de mundo corporativo mais ético e com profissionais que pensem mais no coletivo do que no individual, afinal a vida não se restringe ao nosso umbigo ou a sua volta.

Quando em 2002 fui convidado a mudar a forma como empresa onde trabalhava com alterações em nossos procedimentos e normativos com base a regulações do Conselho Monetário Nacional, do Bacen e de nossa própria Matriz, não tinha noção de onde poderia chegar, afinal muito se falava de compliance, mas com foco somente em prevenção à lavagem de dinheiro, muito pouco para o que temos hoje.

Mas o tempo evoluiu a mim e a minha forma de implementar meus conhecimentos e dos colegas de universidade e das entidades de classe que através de seus comitês discutiam formas de implementar as mudanças regulatórias e ainda fazer com que colaboradores, gerentes e administradores seguissem as mudanças, se hoje está difícil ainda, imaginem há 15 anos atrás. Mas quanto maior o desafio, maior é a realização que temos em alcançar os objetivos.

Controles internos e compliance foram meus focos iniciais, fiz muitos amigos e perdi amigos, mas é parte da linha da vida profissional, e aprendi muito com os erros, mas acertei bastante, precisei lutar com o desprezo, com pessoas desacreditando nosso trabalho para continuar a fazer do jeito que já faziam, mesmo que fora do padrão, por que dava resultado, mesmo com riscos enormes. Porém quando algo saía errado o culpado era eu, por não ter visto uma coisa que ninguém se quer me informou que estava fazendo.

Amadureci muito na forma de abordar os problemas e possíveis soluções, aprendi a ouvir mais, avaliar mais, entender mais, criticar menos, resolver mais, pois quando mais entendemos o que fazemos, melhor será o resultado de nosso trabalho, pois em certos casos tentam convencer a gente a fazer o errado, mas oferecem tantos argumentos para justificar que está certo, que você se questiona se realmente não estamos sendo burocráticos demais ou intransigentes no processo.

Quando passei a lecionar sobre compliance, controles internos e riscos, aprendi que compliance é mais que seguir regras, escrever normas, avaliar as possíveis perdas, e quando passei a ser consultor, com a missão de convencer clientes que isto tudo pode agregar valor ao negócio, percebi o tamanho da responsabilidade que temos. Portanto, vejo muita gente migrando para oferecer consultoria e treinamentos de compliance com foco em corrupção e lavagem de dinheiro, afinal as últimas informações e evidências que temos são justamente sobre este assunto, e de suma importancia, não posso negar, mas temos muito mais a realiazar.

Como já escrevo há muito tempo e meus livros são testemunhas impressas de meus pensamentos, se ficarmos por muito tempo focando somente em itens de corrupção e lavagem de dinheiro, deixaremos de lado os negócios, onde as questões tributárias demandam necessidades absurdas de tratamento operacional, as questões de tecnologias mais avançadas do que podemos acompanhar, contabilidade e suas mudanças constantes com base na essência dos negócios, a segurança da informação e a computação na nuvem, como tratar isso sem investimentos adequados, legislação trabalhista e gestão de terceiros como manter isso sem ônus para as empresas, a necessidade do negócio ser sustentável e se manter entre uma crise e outra, inovação e conservadorismo, são questões que a empresa tem que assumir e os profissionais de compliance devem dar suporte, e não assumir as falhas de gestão e de tomadas de decisão.

Por esse motivo venho alertando que a implementação de um departamento, de uma diretoria de compliance, controles internos e riscos com avaliação periódica de uma auditoria interna, quando existe, não basta. Devemos deixar bem claro que os administradores devem implementar isso, mas aí entramos somo suporte para melhoria, mas a vontade de fazer a coisa certa deve partir deles e nós não podemos ser responsabilizados pela falta de conduta, ética e pela ganância excessiva de alguns empresários. Antes que alguém fale alguma coisa contra, existem muitos empresários honestos, mas por culpa de outros são jogados no mesmo buraco escuro da podridão, e nem quero falar de nossos governantes e “representantes do povo”.

Portanto, não importa o tamanho da empresa, todas necessitam estar em conformidade, ter suas informações e controles internos/contábeis dentro das regras e de fácil recuperação, avaliar riscos financeiros antes da ocorrência da perda, e parar de se lamentar por operações mal feitas, afinal muitas buscaram acordos de leniência para salvar a empresa, pois em certos casos de falha de conduta foram orientados pelos gestores na busca de atingir metas e obter bônus financeiros, mas quando dá errado ninguém assume.

Então cuidado para que estas questões de compliance não fiquem subjetivas e superficiais, não basta implementar um programa de integridade, devemos ter evidências que está sendo seguido, lembrar que devemos utilizar metodologias simples e de fácil absorção, evitar palavras e documentos com termos rebuscado, o simples já é difícil e sofisticar demais não comprova que sabemos, pelo contrário, afasta quem desconhece, e complica a mente de quem precisa se responsabilizar. Não somos responsáveis pelas transações comerciais e operacionais das empresas, somos suporte para que sejam feitas dentro das regras, e cada profissional na organização é responsável pela decisão que toma.

Pense nisso, você não daria o carro da empresa para uma pessoa sem habilitação, mas uma vez que ele possua a habilitação, que permita a condução do veículo, espera-se que ele cumpra as regras do trânsito e as regras internas da organização, mas como o mercado esta usando o compliance como responsável por tudo, se ele tomar uma multa, atropelar alguém ou dirigir embriagado e causar um acidente, quem responderá será o compliance officer? Exageros á parte devemos entender onde está a reponsabilidade de cada um nos processos, pois o compliance vai além do que imaginamos, esperamos e ansiamos.

* Marcos Assi é professor e consultor da MASSI Consultoria e Treinamento – Prêmio Alta Gestão 2017, Prêmio Anita Garibaldi 2014 e Prêmio Giuseppe Garibaldi 2016, Comendador Acadêmico pela Câmara Brasileira de Cultura, professor de MBA na FECAP, FIA, Saint Paul Escola de Negócios, Centro Paula Souza, UNIMAR, FADISMA, Trevisan entre outras; autor dos livros “Controles Internos e Cultura Organizacional”, “Gestão de Riscos com Controles Internos”,  “Gestão de Compliance e seus desafios” e “Governança, riscos e Compliance – Mudando a conduta nos negócios” pela Saint Paul Editora.

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.