Bancos menores precisam de mais qualidade, não crescimento
Os bancos pequenos e médios brasileiros devem diminuir o ritmo de crescimento em 2011 e buscar conceder empréstimos com maior qualidade, afirma Edgar Dias, analista sênior da agência de classificação de risco Fitch Ratings, que avalia 44 instituições financeiras no Brasil. Apesar de as perspectivas para o consumo doméstico serem positivas, o que deve puxar o crédito, esses bancos devem enfrentar grandes desafios para se capitalizar para poder crescer vigorosamente.
“Ao contrário dos concorrentes maiores – que têm mais acesso a capitais e maior estabilidade de depósitos – os pequenos e médios têm lutado para conseguir acesso contínuo a financiamentos para alimentar seu crescimento”, afirma a Fitch em seu relatório “Bancos de médio porte no Brasil: performance adequada para um modelo de negócios desafiador”. Segundo a agência, “essa situação pode continuar no futuro.”
Dias afirma que diante de um cenário de maior dificuldade para as captações e concessão de crédito, “cujo custo aumentou com as medidas macroprudenciais do governo brasileiro”, uma das soluções para os bancos menores é um crescimento mais lento. “Eles terão que buscar mais qualidade e um crescimento menos forte. Será um ano de cautela maior por parte desses bancos.”
“Quando um setor mostra um crescimento muito rápido, os riscos de eventos não previsíveis aumenta”, acrescenta Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch. Mas, segundo ele, o Banco Central do Brasil “está de olho neste movimento.”
Em geral, os bancos pequenos e médios se capitalizam principalmente por meio da venda de carteira para bancos grandes, por meio de securitizações, depósitos corporativos institucionais, como os Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE), repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, em menor medida, com emissões no mercado doméstico e em mercados internacionais.
Além da captação, a Fitch afirma que os bancos pequenos e médios brasileiros deverão também enfrentar outros importantes desafios este ano. Entre eles, a agência destaca que a grande concorrência pode comprimir margens e levar algumas instituições a diversificar seus negócios. Além disso, a Fitch afirma que “o governo não vai ser tímido na aplicação de medidas para lutar contra a inflação e o risco de crédito sistêmico, que vai afetar as estratégias de certos bancos.”
Sobre uma possível consolidação no sistema bancário brasileiro, a equipe da Fitch acredita que fusões e aquisições entre bancos pequenos e médios não devem ser descartas, mas também não devem ser consideradas a “solução padrão” para dificuldades dos bancos. “Participantes mais pequenos podem ser forçados a procurar parceiros mais fortes, ou, eventualmente, vender seu negócio para outro banco”, diz o relatório da agência. Mas Dias acrescenta que, por envolverem bancos “menos sofisticados”, eventuais operações tendem a ter risco elevado.
Ratings
Em relação aos ratings, a Fitch afirma que as instituições de pequeno e médio porte do País tendem a receber classificações de grau especulativo ( “B” e “BB”). Ainda que alguns bancos possam ter melhores ratings, favorecidos pelo crescimento da economia brasileira e pela qualidade da supervisão bancária do País, a melhora das notas deve ser “limitada por desafios que não devem ser resolvidos no curto prazo.”
O setor bancário brasileiro tem como característica a forte concentração em poucas grandes instituições. Em setembro de 2010, todo o sistema tinha R$ 4,2 trilhões em ativos totais, divididos em cerca de 100 bancos. No entanto, apenas sete instituições detinham aproximadamente 70% do total dos ativos.
Fonte: Olivia Alonso, iG São Paulo