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Agência de risco chinesa avança com novos padrões de avaliação

Risk1Se os países emergentes tivessem uma agência de rating em que se espelhar, ela seria igual à chinesa Dagong Global Credit Rating. Sua classificação, convenientemente, segue critérios distintos das tradicionais e desmoralizadas Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch. Para ela, os Estados Unidos não têm o ‘triplo A’, reservado para a China, e o Brasil está apenas dois degraus abaixo dos americanos.

Na escala da agência chinesa, a classificação do Brasil é ‘A-‘ desde junho do ano passado. Já a nota dos EUA foi reduzido para ‘A+’. O rating concedido ao Brasil pelos chineses é melhor do que o ‘Baa3’ dado pela Moody’s, ‘BBB’ pela Fitch e ‘BBB+’ pela S&P. Já para os EUA, as três grandes agências mantêm a nota ‘triple A’, a mais alta na escala.

O desempenho das três grandes agências de rating ocidentais – que dominam o mercado mundial – tem sido contestado por não terem identificado os riscos que levaram a pior crise financeira dos últimos tempos. E, na semana passada, a decisão da S&P de rebaixar a perspectiva do rating americano de “estável” para “negativo”, abriu uma brecha para a chinesa Dagong aparecer pela primeira vez na cena global.

O jornal “Financial Times” lembrou que a chinesa tinha meses antes tirado suas conclusões “estranhamente prescientes” sobre o risco da enorme dívida americana, cortando em novembro o rating dos EUA. E em janeiro, quando S&P surpreendeu rebaixando a dívida do Japão, a chinesa já tinha feito o mesmo também bem antes.

Essa foi a melhor nota que Dagong poderia receber, porque desde que deixou de fazer rating apenas local e entrou no mercado internacional, no ano passado, parte da comunidade financeira vê na agência uma “vertente muito nacionalista” com classificação de risco também “política”.

O fato é que a Dagong decidiu concorrer no mercado internacional de classificação de risco no rastro da pior crise financeira global, com a China ansiosa para exercer mais influência no sistema financeiro global e frustrada com o domínio de instituições ocidentais.

O presidente chinês Hu Jintao argumentou que o mundo precisava “de padrões objetivos, justos e razoáveis” para o rating da dívida soberana. E a agência insiste que seu alvo é avaliar os países usando métodos que “não sejam afetados por ideologia”, acusando seus concorrentes anglo-saxões Fitch, Moody’s e S&P de “viés ideológico” a favor do ocidente.

O curioso é que sua metodologia enfatiza justamente os quesitos nos quais a própria China se destaca: capacidade de crescimento econômico (com peso maior na classificação do que receita financeira do governo) e reservas internacionais.

Na sua primeira classificação do risco soberano de 50 países, em junho, a Dagong cortou o famoso ‘triple A’, de mais alta qualidade de crédito, para as grandes economias como EUA, Japão e Alemanha. Ao mesmo tempo deu à China uma nota melhor do que a atribuída pelas grandes agências internacionais.

Nove países emergentes, incluindo o Brasil, receberam melhor rating da Dagong do que das três grandes agências internacionais. A nota do Chile é idêntica à dos EUA, com a diferença que os chilenos tem perspectiva “estável”, e a dos americanos é “negativa”. Rússia e África do Sul têm um grau acima do Brasil. Em comum, os emergentes têm “ainda problemas em suas estruturas econômicas, capacidade de resistência a choques e estabilidade de crescimento que precisam ser melhorados”.

Com a China detendo US$ 1,541 trilhão de títulos do Tesouro americano, sendo o maior credor estrangeiro dos EUA seguido pelo Japão com US$ 890 bilhões ao final de fevereiro, a Dagong tenta ser reconhecido oficialmente no mercado americano, até agora sem sucesso.

A agência qualificou de “discriminação” a rejeição pela Securities and Exchange Comission (SEC) de seu pedido de registro, no ano passado. Os americanos queriam supervisionar a agência, algo que os chineses recusaram alegando questão de soberania nacional. Analistas americanos veem falta de transparência sobre quem de fato controla a agência. Historicamente, boa parte de seus negócios envolve classificação de risco de empresas estatais para bônus comprados por investidores locais atrelados ao Estado.

Em novembro, quando cortou o rating dos EUA, Dagong alertou para “longa acumulação de contradições no sistema econômico” americano, e que diante da situação atual, o país pode enfrentar “riscos na solvência em um ou dois anos”.

Em estudo recente, a agência chinesa estima que a divida total dos governos excederá os US$ 50 trilhões este ano, com a relação divida governamental dos países ricos em relação ao PIB superando os 100%.

Para Dagong, de um lado estão os países endividados como EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Espanha, e do outro, emergentes credores como China, Rússia, Índia, Coreia do Sul e Brasil. “Os emergentes credores continuarão abrindo caminho para o crescimento econômico global e detendo títulos de dívida dos países desenvolvidos, evitando que a crise da dívida soberana nas economias desenvolvidas resulte em colapso, estabilizando assim as relações internacionais de crédito e criando os fundamentos para a recuperação da economia mundial”, diz a agência chinesa.

Guan Jianzhong, presidente da Dagong, disse ao Valor que enviará uma missão técnica proximamente ao Brasil para monitoramento mais aprofundado do “status quo”, destacando o desempenho atual da economia brasileira.

Segundo ele, desde que a agência atribuiu a nota ‘A-‘, de alta qualidade de crédito, “notamos que o crescimento econômico e o aumento da receita fiscal no Brasil se tornaram melhores e essa tendência será constante nos próximos dois a três anos”.

“Isso constitui uma base sólida para apoiar seu rating de crédito. A julgar pelos fundamentos, as perspectivas podem ser positivas”, acrescentou Jianzhong. Em setembro, um representante do Ministério da Fazenda foi à sede da agência, em Pequim, quando convidou os chineses a virem ao Brasil fazer entrevistas e analisar a situação local.

Fonte: Assis Moreira, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.