A blindagem do BMG – Banco mineiro investiu os últimos quatro anos na profissionalização da gestão
A biografia de Alcides Tápias se confunde com a história recente do sistema bancário. Ex-diretor do Bradesco, ex-presidente da Febraban e participante dos conselhos de empresas como Itaú Unibanco e Camargo Corrêa, ele sabia que tinha um desafio pela frente em 2012, ao se apresentar para seu novo emprego: presidente do Conselho de Administração do banco mineiro BMG, fundado pela família Pentagna Guimarães em 1930. “Nosso trabalho foi transformar um banco familiar em uma instituição financeira profissionalizada, onde as regras eram claras e bem definidas”, diz Tápias.
Tápias, ao lado de Antônio Hermann, que foi indicado para a presidência do banco na mesma ocasião, tinham de lidar com uma instituição financeira que enfrentava uma crise de imagem por conta de um empréstimo ao publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo do Mensalão. O primeiro passo para superar a crise foi garantir o funding para os empréstimos consignados. Essa carteira cresceu muito desde 1998, depois que o BMG saiu na frente dos concorrentes e foi um dos primeiros a apostar na concessão de créditos vinculados aos salários de servidores federais e pensionistas do INSS.
Porém, os grandes bancos haviam parado de repassar recursos aos pequenos por meio do mercado interbancário. A tacada de Tápias e Hermann foi acertada em 2012: o banco fechou uma joint venture com o Itaú Unibanco para oferecer os consignados. O negócio deu tão certo que a empresa foi 100% absorvida pelo Itaú em dezembro passado. Agora, o BMG está com o caixa cheio e reforça a governança corporativa para se blindar ainda mais. Tápias, que em janeiro cedeu a presidência do Conselho ao banqueiro francês naturalizado brasileiro Bernard Mencier, ex-presidente do BNP Paribas do Brasil e do CCF, avalia que o banco está pronto para qualquer turbulência.
A começar pelo balanço. “O BMG tem mais de R$ 2,5 bilhões em caixa, o equivalente a 100% do patrimônio líquido”, diz ele. Mencier acrescenta que o banco já não depende tanto de recursos de terceiros, como no passado. “Hoje, 64% da nossa captação vem da emissão de CDB”, diz ele. “São papéis sem liquidez, e os prazos estão alinhados com os empréstimos concedidos.” Também houve reforço na governança. Roberto Faldini, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários, integra o Conselho desde 2012. Olga Colpo, ex-sócia da consultoria PwC, foi admitida em abril. “O banco é uma empresa fechada, mas fazemos tudo o que uma companhia aberta faz, e isso dá uma confiança grande ao investidor”, diz ela. Isso não se restringe às divulgações trimestrais de resultados.
Também inclui o fato de o Conselho de Administração ter quatro membros independentes entre seus sete participantes. Ou seja, maioria. Para isso, Tápias teve de batalhar uma autorização especial do Banco Central (BC). Hoje, os três membros da família que integram o Conselho participam da definição da estratégia, mas não atuam diretamente na gestão. “O cliente olha para todos os bancos como se fossem iguais, então, internamente, temos de ser iguais aos outros”, diz Tápias. “E, para fora, temos de ser melhores”, avalia Mencier. “A família controladora tem suas questões com a Justiça, mas nosso trabalho é impedir que elas afetem os negócios do banco.”
Os problemas jurídicos decorrem de dois empréstimos, que somam R$ 12 milhões, concedidos à agência de propaganda do publicitário mineiro Marcos Valério, a SMP&B. Valério foi condenado pelo Mensalão e por ter repassado recursos à campanha que elegeu Eduardo Azeredo, do PSDB, ao governo mineiro, em 1998. O caso foi parar na Justiça. Na esfera administrativa, o banco foi inocentado pelo BC e pelo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional. Embora o BMG tenha ficado fora da denúncia do Mensalão, seus ex-executivos foram arrolados na Justiça comum.
Em julho passado, Flavio Pentagna Guimarães e seu filho Ricardo Annes Guimarães, que comandavam o BMG na época dos empréstimos, além de outros dois diretores do banco, foram condenados na primeira instância por gestão fraudulenta. O processo ainda está em tramitação. A terceira turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região deverá decidir sobre o assunto ainda no mês de junho, segundo um comunicado enviado pelo Tribunal à DINHEIRO.