Diretor de cinema divide opiniões ao lembrar atentado no World Trade Center
A cadeira reservada a Stephen Daldry talvez fique vazia neste domingo, quando será realizada a 84ª cerimônia do Oscar, no Kodak Theater de Hollywood. Embora seu quarto longa, “Tão Forte e Tão Perto”, concorra à estatueta de melhor filme, o diretor britânico está “ocupado demais” para viajar até Los Angeles.
“Não estou esnobando o prêmio”, contou o cineasta de 50 anos, até hoje nunca ignorado pela Academia. “Billy Elliot” (2000) disputou três Oscars, “As Horas” (2002) teve nove indicações e “O Leitor” (2008) brigou por cinco estatuetas – com Daldry concorrendo pelos três filmes como melhor diretor.
O impedimento deste ano é o trabalho na direção geral das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres. A festa de abertura, agendada para 27 de julho, terá direção artística de Danny Boyle e terá como tema “Isles of Wonder” (Ilhas da Maravilha), inspirado em “A Tempestade”, de Shakespeare. “Há muita pressão. Ainda temos muito o que fazer até lá”, diz Daldry.
O cineasta só conseguiu escapar de Londres (por dois dias) para a divulgação de “Tão Forte e Tão Perto”, na 62ª edição do Festival de Berlim, onde o drama disputou o Urso de Ouro. Com estreia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros, o filme polarizou as opiniões no evento alemão, que costuma servir de plataforma para os títulos em campanha pelo Oscar. A reação já era esperada pelo diretor – pelo fato de o roteiro relembrar os ataques de 11 de Setembro.
“Por mais que a tragédia já tenha completado dez anos, muitas pessoas ainda acham cedo para vê-la retratada nas telas, em consideração às vítimas e às suas famílias. Mas não vejo como o filme poderia ofendê-las”, contou o diretor em entrevista a um pequeno grupo de jornalistas, da qual o Valor participou.
Baseado no livro “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto”, de Jonathan Safran Foer (lançado no Brasil pela editora Rocco), o drama mostra a dolorosa jornada de um menino (Thomas Horn) para superar a morte do pai (Tom Hanks), que se encontrava no World Trade Center no dia do ato terrorista. Quem ajuda o garoto nessa empreitada é o avô mudo – vivido por Max von Sydow, responsável pela segunda indicação ao Oscar que a produção recebeu, como melhor ator coadjuvante.
Numa das cenas mais controversas, o garoto imagina o pai, desesperado, pulando do alto do edifício. “Segundo os familiares das vítimas que serviram de consultores para o filme, as crianças que perderam os pais no episódio realmente se perguntam se eles saltaram ou não das janelas do prédio. E tudo o que soou verdadeiro nós trouxemos para o nosso protagonista.”
A única cena com as Torres Gêmeas em chamas são mostradas da perspectiva da mãe do menino (Sandra Bullock), que se encontrava em prédio próximo ao receber o telefonema do marido, preso no WTC. “Debatemos muito se deveríamos mostrar ou não as torres. Estranhamente, quando escolhemos a locação para o local de trabalho da personagem de Sandra, o edifício tinha uma vista para o WTC. Como a personagem e o espectador veriam tudo de dentro de outro prédio, achei que as paredes de vidro deste proporcionariam um certo distanciamento. O suficiente para não me acusarem de explorar as imagens, por mais que elas já façam parte da memória coletiva”, afirmou Daldry
Fonte: Valor Economico
